Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 23, 2007

Celso Ming - Na contramão




O Estado de S. Paulo
23/3/2007

O governador José Serra é um dos críticos ferozes da política econômica do governo Lula e nisso não se diferencia dos dirigentes do PT. O diabo é que essa política tem boa probabilidade de dar certo e, nesse caso, Serra pode passar por aquele que persistiu na defesa do lado errado.

Para o governador, o câmbio está fora do lugar, a política de juros é covarde e os dirigentes do Banco Central são incompetentes. Paradoxalmente, Serra vem sistematicamente poupando o que poderia ser mais duramente questionado, que é a gastança do governo Lula - a mesma que puxa a carga tributária e engrossa o custo de produção.

Serra não é um arrivista. O modelo adotado de política econômica vem sendo criticado por ele desde o início do governo Fernando Henrique, do qual fez parte. Em setembro de 2005, Serra chegou a reconhecer que uma política vitoriosa contra a inflação produz mais retorno eleitoral do que uma política focada no crescimento econômico, embora com prejuízo do combate à inflação.

O presidente Lula fez sua escolha. Entendeu que a melhor forma de garantir apoio político é concentrar esforços na luta contra a inflação. E foi em frente, apesar do fogo implacável do PT, de pelo menos metade do seu ministério, da maioria dos dirigentes da indústria e do comércio e de um punhado de analistas econômicos.

Ao final dos últimos quatro anos, o Banco Central foi capaz de entregar ao presidente Lula o que lhe foi encomendado. Para todos os efeitos, a inflação está confinada no curral dos 3% ao ano, para alegria do povão que hoje sente a valorização do salário e a ascensão do emprego.

Além de garantir o controle da inflação, a atual política econômica avançou em outros campos. Apesar do câmbio baixo, as exportações crescem pelo quarto ano consecutivo, desta vez a 16%; as reservas externas estão próximas dos US$ 110 bilhões; os juros básicos (Selic) caíram 7 pontos porcentuais e seguem em queda; a dívida poderá terminar o ano perto dos 40% do PIB; os investimentos estrangeiros diretos beiram os US$ 40 bilhões por ano (cerca de US$ 20 bilhões líquidos); o prêmio de risco Brasil vai para 170 pontos; o emprego melhora pouco, mas melhora; o crescimento econômico, ainda que pífio, parece em condições de deslanchar; o grau de investimento dos títulos soberanos do Brasil, principal objetivo da política econômica dos últimos 12 anos, parece à vista.

Isso não é pouca coisa. A propósito, dois economistas, Luciano Coutinho e Antônio Corrêa de Lacerda, que vinham sustentando as mesmas posições de Serra, começam a admitir que um novo círculo virtuoso está a caminho. Serra nem pode insistir em que Lula limitou-se a manter o curso da política econômica implantada pelos tucanos porque foi sempre contra ela, desde a segunda metade dos anos 90.

A nova ficha técnica da economia terá inúmeras conseqüências, entre as quais as políticas. Se o governador José Serra persistir nos ataques, correrá o risco de ser visto como aquele que defendeu posições equivocadas e que pretende mudar tudo na economia se chegar à Presidência da República.


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