Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 09, 2007

Celso Ming - Alvo errado



O Estado de S. Paulo
9/3/2007

A cada 40 dias repete-se a agonia que alguém chamou de TPC (tensão pré-Copom). Logo depois de anunciados os juros, seguem-se as críticas ao Banco Central.

Pela gritaria, tudo se passa como se do tamanho dos juros básicos (Selic) dependessem a vida e a morte dos negócios. Não é assim. De setembro de 2005 até janeiro, a Selic havia caído 6,75 pontos porcentuais ao ano, uma queda de 34,17%, mas, na ponta do tomador de crédito, a que de fato move a economia, a variação é bem menor, como está na tabela.

Ao metralhar as decisões do Copom, os críticos apontam para o alvo errado. A Selic continuará caindo e um dia não mais se poderá dizer que esses juros seguem sendo os mais altos do mundo. No entanto, o custo do crédito tende a continuar insuportável.

Quando denunciam que uma Selic tão alta promove a especulação com juros, os críticos dizem uma verdade e uma inverdade. Acertam ao afirmar que a arbitragem com juros está generalizada. Mas erram ao dizer que se baseia na diferença entre os juros básicos externos e a Selic.

Quem reclama da entrada excessiva de dólares que alimentam a “especulação com juros” imagina que o investidor toma dinheiro emprestado lá fora a 7% ao ano para reaplicá-lo em reais a 13%. Mas essa operação é rara. É significativa a arbitragem com juros na ponta do crédito e não na das aplicações. É, por exemplo, o importador que compra lá fora mercadoria financiada com prazos a perder de vista e juros de 7% ao ano, vende-a no mercado interno e depois usa o resultado como capital de giro, para não ter de tomar no banco a 32% ao ano.

A relativa estabilidade cambial também está favorecendo a tomada de empréstimos externos e, assim, evitam os elevados juros internos. Mas isso, outra vez, tem pouco a ver com a Selic.

O crédito é caro no Brasil por muitas razões já repisadas e nunca corrigidas: impostos, compulsório elevado, falta de apetite dos bancos pelo crédito. Um dos segmentos onde o crédito é mais caro (juros de 102% ao ano, segundo a Anefac) é o comércio varejista. Quando a vendedora da loja diz que você pode pagar em quatro ou cinco vezes “sem juros”, está claro que o preço à vista foi inchado por uma margem financeira.

Enfim, por desinteresse dos bancos, o comércio ocupou essa área do crédito e atua como instituição financeira, sem se submeter à fiscalização do Banco Central. Os reclamões deveriam centrar aí seu fogo contra os juros.

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