Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 17, 2007

Auto-retrato Arianna Huffington

Primeiro ela saiu da Grécia e conquistou a Inglaterra, onde foi a primeira mulher a presidir (com sotaque) o clube de debates da Universidade de Cambridge. Depois, mudou-se para Los Angeles e conquistou a América: casou-se com um bilionário, envolveu-se na política e fundou um influentíssimo site anti-Bush. No meio tempo, Arianna Huffington, 56 anos, escreveu onze livros, dos quais o último, Mulheres Corajosas Sempre Vencem, auto-ajuda com recheio autobiográfico, está sendo lançado no Brasil. Sobre ele, Arianna falou à editora Lizia Bydlowski.

DO QUE AS MULHERES TEM MEDO?
Por incrível que pareça, elas continuam tendo os mesmos medos de sempre. Esse é um dos motivos pelos quais resolvi explorar o conceito de coragem. Fiquei chocada ao ver que minhas duas filhas tinham os mesmos temores que me atormentaram na adolescência – será que sou atraente, será que gostam de mim? Pensava que, com todas as conquistas feministas, minhas filhas não iriam sofrer como eu. Mas aí está a nova geração, tão insegura, cheia de dúvidas e desesperada quanto a minha, sempre preocupada com os outros.

SEU PRIMEIRO LIVRO, ESCRITO HÁ TRINTA ANOS, TRATAVA DE FEMINISMO. ESTE AGORA, DE CERTA FORMA, TAMBÉM. O QUE MUDOU DE LÁ PARA CÁ?
Nos anos 70, havia no feminismo uma falta de respeito para com a mulher que prezava a maternidade. Com o tempo, foi-se percebendo que ela não queria abrir mão desse papel, que queria ser valorizada tanto como profissional quanto como mãe. O problema agora é justamente conciliar os múltiplos desafios. Além dos obstáculos presentes na sociedade, existe também aquela voz interna, crítica, que impede que a mulher vá atrás do que realmente deseja.

HOMENS TAMBÉM NÃO TEM ESSA VOZ INTERNA?
Têm. Mas a calam com a maior facilidade. Ligam a televisão, assistem a um jogo de futebol e pronto.

QUAIS OS TRÊS CONSELHOS FUNDAMENTAIS QUE UMA MÃE DEVE DAR À FILHA?
Primeiro, ter senso de humor e manter as coisas dentro da devida perspectiva. Em segundo lugar, ter em mente que cada pessoa é única, diferente das outras, e comparar não leva a nada. Por último, lembrar sempre de fazer coisas para os outros, e não só para si mesma.

SER ATRAENTE E RICA, COMO A SENHORA, É MEIO CAMINHO ANDADO PARA O SUCESSO?
Beleza pode ajudar, mas não tanto quanto ter charme, personalidade. E essas são qualidades que se adquirem, são produtos da confiança em si mesma. Quanto a dinheiro, nem sempre fui rica. Pelo contrário. Quando estudei, como bolsista, em Cambridge, eu e minha mãe éramos bem pobres e passamos muita dificuldade. Agora, não há dúvida de que a melhor coisa do dinheiro é a independência que ele traz. O dinheiro compra tempo.

SEU LIVRO DIZ QUE AS MULHERES TEM DE LIDAR COM DINHEIRO E DEIXAR DE PENSAR QUE ISSO É COISA DE HOMEM. COMO A SENHORA LIDA COM O SEU?
Para dizer a verdade, eu não me interesso muito por investir, cuidar de dinheiro. Acho que não está na minha personalidade.

A SENHORA ERA REPUBLICANA E AGORA É DEMOCRATA. COMO FOI A PASSAGEM?
As questões realmente importantes hoje em dia não podem ser divididas entre direita e esquerda, republicano ou democrata. Veja a guerra no Iraque, à qual me opus desde o começo: algumas das principais vozes contra ela são de conservadores. Mas eu troquei de partido, há dez anos, porque não tinha mais espaço para trabalhar com questões que realmente me empolgam. Foi difícil. Perdi amigos, que não entendiam minha transformação. Mas eu precisava dar continuidade à minha evolução pessoal.

SE FOSSE ESCOLHER UMA MULHER HOJE PARA UM DEBATE SOBRE QUESTÕES IMPORTANTES, QUEM SERIA?
A secretária de Estado Condoleezza Rice, para discutir a trágica decisão de invadir o Iraque. Ela ajudou a vender essa idéia imoral ao público americano. Tenho a impressão de que seria um debate bem animado.

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