Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 10, 2007

Assassinas de Tucumán


Mistério na pacata província argentina: por que
as mulheres estão matando mais que os homens?


Thomaz Favaro


Carlos Villagra/Ag Infoto
A ex-policial Ema Gómez: ela matou um juiz a tiros

Em Tucumán, a menor província da Argentina e distante 1.300 quilômetros da capital, Buenos Aires, as taxas de homicídio estão entre as mais baixas do país. No momento, a região está abalada por homicídios surpreendentes – quatro dos seis assassinatos de maior repercussão ocorridos por lá desde 2004 foram cometidos por mulheres. Espanta sobretudo o aparente rompimento de uma regra básica dos crimes brutais: os homens matam mais que as mulheres. Na Argentina, elas representam apenas 11,5% da população carcerária. Pelas tradições locais, seria mais aceitável se os crimes tivessem ocorrido numa favela qualquer. Mas não é assim. Três das assassinas são de classe média. No caso mais recente, a contadora Liliana Cruz, de 52 anos, foi degolada, esquartejada em oito partes e guardada dentro do armário de uma farmácia. A acusada pelo crime é María Dip, de 53 anos, farmacêutica e amiga íntima da vítima. O motivo, segundo os parentes de Liliana, seria uma dívida equivalente a 8.000 dólares.

O primeiro caso envolvendo mulheres homicidas em Tucumán aconteceu em novembro de 2004. O juiz Héctor Araóz foi morto com nove tiros por sua namorada, a ex-agente policial Ema Gómez. A polícia acredita que o crime tenha ocorrido depois de uma briga violenta do casal, pois foram encontrados restos de pele de Araóz sob as unhas da namorada e nas mãos do cadáver havia chumaços do cabelo dela. Os métodos usados nos dois casos contrariam outro lugar-comum a respeito de mulheres homicidas: o de que elas preferem um crime limpo, sem sangue ou sinais de brutalidade, e cuidadosamente planejado. Nos Estados Unidos, 80% das assassinas envenenam suas vítimas. Apenas uma das quatro assassinas de Tucumán se utilizou desse recurso. No ano passado, Nora Rivadeneira, de 64 anos, adicionou ao macarrão com frango, tradicional no almoço de domingo da família, grandes quantidades de pesticida. O marido e três netos – de 13, 9 e 1 ano de idade – morreram. Apenas uma neta de 12 anos sobreviveu. Nora, que é analfabeta e mora na região rural, disse que não comeu do próprio veneno porque não estava com fome.


Fotos Juan P. Sanchez Noli/LG/Ag. Infoto
Por causa de uma dívida: María Dip (à esq.) cortou Liliana (à dir.) em oito pedaços e os guardou no armário

O crime mais bem planejado foi o que levou à morte da professora Angela Argañaraz, de 45 anos, que desapareceu em 31 de julho, dia em que deveria assumir a diretoria da escola católica onde lecionava. A polícia não encontrou seu corpo, mas descobriu vestígios de seu sangue no apartamento de duas de suas colegas de trabalho. Uma delas teria pedido ao irmão, atualmente foragido, que enterrasse o cadáver. "Os quatro assassinatos não têm conexão entre si", disse a VEJA Carlos Santiago Caramuti, professor de direito penal do Colégio de Advogados de Tucumán. "Permanece um mistério por que tantas mulheres em Tucumán estão cometendo crimes dessa natureza."

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