Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 20, 2007

Apagão aéreo: a conspiração dos fatos


Você quer saber se o tal PAC vai dar certo, para o país crescer os 5% ao ano de forma sustentada? Acho que a pergunta pode ser feita aos aeroportos brasileiros. Faz seis meses que o país está nessa. A cada dia, há uma série de justificativas novas, e Lula aproveita para dizer que, desta vez, é pra valer: vai mesmo resolver o problema. A sua dedicação ao assunto era tal, que estava determinado a manter no cargo o ministro Waldir Pires (Defesa).

A humilhação imposta ao governo pelo novo apagão aéreo minou as chances de Pires continuar no cargo — mas era isso o que estava decidido. A simples intenção de manter o homem já era acintosa. É óbvio que o ministro — ou o governo — não tem a menor idéia do que está acontecendo. A sua proposta mais “brilhante” era tirar o controle do tráfego aéreo civil das mãos da Aeronáutica. Já mudou de idéia. Afinal, qual é mesmo o problema?

Seis meses não são seis dias. E a Defesa, a Aeronáutica e a gigante Infraero, com um orçamento de estupendos R$ 6 bilhões, confessam, na prática, não saber por que as coisas são assim. O petismo, cobrindo-se de ridículo, pela voz do seu líder na Câmara, Luiz Sérgio (RJ) — mais um da turma do Zé Dirceu — chegou a sugerir até mesmo uma sabotagem só para engrossar o caldo da CPI do Apagão Aéreo, para a qual o PT não vê nenhum motivo.

Tudo bem. Entendo que governos não queiram CPIs. Dentro do regimento e da legalidade, uma das funções dos governistas é mesmo impedi-las. Mas é claro que se pode fazer isso com mais ou com menos jeito; com desculpas novas ou com justificativas esfarrapadas. Segundo o comando petista, uma comissão de inquérito intranqüilizaria o país. Imaginem um apagão aéreo no governo FHC. Os parlamentares do PT, a esta altura, estariam fazendo panfletagem nos aeroportos.

A futura ministra do Turismo, Marta Suplicy, esteve hoje com Lula. O PT queria que a Infraero passasse para a sua gestão. Marta entende de aviões. Sobretudo da primeira classe. Não sei como o Brasil conseguirá sair dessa encalacra sem o seu domínio técnico sobre o assunto. O Apedeuta resistiu à investida. Depois de falar com o chefe, Marta deu uma entrevista em que falou literalmente o seguinte: “O presidente disse que, no momento, não era o horário (sic) de mudar a Infraero de lugar (sic)”. Assim mesmo. Digamos que falte à ministra até um vocabulário, huuummm, aeronáutico... Parece que a Infraero fica onde está, e quem vai posar em outra pista é Waldir Pires.

Volto ao ponto inicial. Querem saber se o PAC vai dar certo? O governo não consegue resolver uma crise emergencial nos aeroportos, Santo Deus! Como é que se arvora a planejar o crescimento econômico dos próximos quatro ou cinco anos? Não consegue nomear um ministro da Agricultura sem ir para no noticiário policial, como pode chamar para si as virtudes de grande estrategista? Ah, claro, claro. Vocês lerão que Lula deu um prazo para resolver o problema. Que bom! Agora vai.

Celso Mello, ministro do STF, está colhendo elementos para saber se determina a instação da CPI, que o governo quer evitar. Eu diria que há, sim, uma conspiração contra os petistas e, na verdade, contra o Brasil: a conspiração dos fatos. Cujas causas são ainda ignoradas. Um bom motivo para uma comissão de inquérito, ministro.
Por Reinaldo Azevedo

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