A VALIADO em si mesmo, o memorando de cooperação em torno do álcool combustível, assinado ontem pelos presidentes Lula e Bush, é um documento genérico e pouco promissor. O que o salva da irrelevância diplomática é o contexto em que foi firmado.
A parceria no desenvolvimento de novas tecnologias -em específico a fabricação do combustível a partir de qualquer resíduo vegetal-, a transferência de know-how produtivo a países da América Central e do Caribe e o diálogo para fazer do álcool uma commodity global ganham significado por conta de mudanças na política energética nas duas maiores economias do planeta.
A União Européia ratificou ontem seu plano de utilizar ao menos 10% de biocombustíveis nos transportes até 2020. Os EUA pretendem atingir a marca de 20% de combustíveis renováveis misturados à gasolina em 2017.
O Japão, por sua vez, aguarda apenas um sinal de confiança no mercado global do etanol para anunciar política pública semelhante. Daí a importância das tratativas acerca da transformação do álcool numa mercadoria com padrão técnico e preço fixados internacionalmente, com diversificação de fornecedores.
É natural, portanto, que o Brasil privilegie as negociações agrícolas -seja no âmbito do álcool, seja na Rodada Doha- em suas relações com os EUA. Mas esse oportuno estreitamento de laços com Washington deveria ter objetivos bem mais amplos e estratégicos da parte brasileira.
Brasil e Estados Unidos, responsáveis pelo naufrágio da Alca, são os únicos atores em condições de relançar uma iniciativa de liberalização comercial nas Américas. A indústria americana e a brasileira -as mais competitivas da região- teriam muito a ganhar se um acordo equilibrado, abrangendo o continente, fosse selado.
Entrevista:O Estado inteligente
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