editorial |
O Estado de S. Paulo |
7/2/2007 |
Do folclore do jornalismo faz parte a observação de um repórter sobre as maravilhas do seu trabalho. “Todo dia conheço coisas novas, viajo, converso com uma infinidade de pessoas”, exultava. “Chato mesmo é ter de escrever depois.” Substitua-se a atividade em questão e o que seria o seu lado ruim, e o comentário poderia ter sido feito, sem tirar nem pôr, pelo presidente Lula. Ele evidentemente se deleita com as benesses de sua função - sobretudo poder viajar e conversar, com a vantagem de que chefes de governo, querendo, têm as prerrogativas de transformar as conversas em monólogos e de aproveitar cada viagem para fazer mais do mesmo, sob a forma de discursos para platéias cativas como os seus interlocutores em palácio. Chato mesmo é ter de governar. Contraste-se o seu escasso ânimo para destravar a formação do novo Ministério e a desenvoltura com que passeia pelo território, aproveitando cada escala para tornar a ouvir o som da própria voz. Agora, então, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente tem o que a rigor lhe faltava no primeiro período de governo - um pretexto perfeitamente caracterizado para acelerar o seu programa de circulação pelo País - em campanha eleitoral, que é o que vem fazendo desde a primeira campanha para a Presidência da República, em 1989. Tanto que não só não faz segredo disso, como o alardeia. No sábado, por exemplo, depois de passar por Campinas, onde discursou na inauguração de uma estação de tratamento de esgoto, ele foi a Paulínia lançar a pedra fundamental de uma indústria de polipropileno. E discursou: “Este ano, vou viajar o Brasil mais do que viajei em qualquer momento. Eu aprendi nos 4 primeiros anos que, se um presidente não estiver tomando conta do rebanho, a gente pode ver, às vezes, ele se perder.” Para quem porventura ainda não tivesse entendido o espírito da coisa, ele explicou, no programa de rádio Café com o Presidente, segunda-feira, até onde pretende levar o mister de cuidar do rebanho. “Eu quero te dizer uma coisa”, começou. “Tanto o PAC, que eu vou fiscalizar (…), como também os Jogos Pan-Americanos agora vão ser assim.” Referindo-se ao PAC ele ainda citou a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff - e isso vem ao caso da reforma ministerial que ainda não saiu, passados 100 dias da reeleição e 37 da posse. Porque, desde o primeiro dia do seu primeiro mandato, os praticamente únicos ministros que lhe interessam são os que ocupam as Pastas da Casa Civil, Fazenda e o Banco Central. Em relação ao restante do seu adiposo Gabinete, ou ele não consegue, por motivos aparentemente insondáveis, emplacar os únicos titulares da sua cota estritamente pessoal, ou depende de que cheguem a acordo entre si os partidos da base governista, notadamente PT e PMDB, com os seus apetites e as suas pencas de candidatos para cada Pasta. No outro caso, para azar de Lula, ele se viu na contingência de precisar trocar dois ministros - Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento - com os quais insistiu a não mais poder para que ficassem até a reorganização do Ministério. Bastos já se cansou de modificar a data da volta para São Paulo, adiada consecutivamente a pedido de Lula (o último, anteontem). A situação é daquelas que o humorista Sérgio Porto diria correrem o risco de descambar para o perigoso terreno da galhofa. Como o presidente avisou que pretende anunciar o Ministério de uma vez só - e só depois do carnaval -, corre-se também o risco de prolongar até os idos de março a pasmaceira que reina na Esplanada dos Ministérios, cujos inquilinos devem estar como aquele que confidenciou ao Estado: “Eu entreguei para Deus.” Dizem as proverbiais fontes do Planalto que Lula não dá a ninguém qualquer indício do que lhe vai pela cabeça nessa matéria. Mas hão de se enganar os que imaginarem que ele está escondendo o jogo: tudo indica que ele não tem jogo algum para mostrar. Porque lhe falta um mínimo de queda para a carpintaria político-administrativa sem a qual não se forma uma equipe de governo - apenas um ajuntamento de delegados partidários, cada um na sua. |
Entrevista:O Estado inteligente
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