Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Clóvis Rossi - Politização da política externa




Folha de S. Paulo
7/2/2007

Há dois aspectos completamente diferentes na entrevista do embaixador Roberto Abdenur à revista "Veja", que teve tanta repercussão que "O Globo" fala até em crise no Itamaraty.
Primeiro aspecto: contradições insanáveis entre o que Abdenur diz em um momento e o que afirma no momento seguinte. O diplomata ataca um suposto (ou real) viés "vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado" na diplomacia do governo Lula.
No momento seguinte, diz textualmente: "O governo Lula tem merecido respeito mundo afora por conciliar uma política econômica pragmática com políticas sociais efetivas e uma POLÍTICA EXTERNA SÉRIA". De duas uma: ou a diplomacia brasileira tem um viés "totalmente superado" ou é "séria".
Não dá para ser as duas coisas a um só tempo.
Também não combina o suposto viés "antiamericano" com a avaliação do próprio embaixador de que "a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos" e "nunca esteve tão bem".
Como é possível que um viés antiamericano conduza a uma relação com os Estados Unidos melhor que nunca?
As contradições não impedem, no entanto, que o Itamaraty deva uma explicação sobre o segundo aspecto contido na entrevista: o de que diplomatas são obrigados a certas leituras ideologicamente orientadas e o de que as promoções na carreira dependem de "alinhamento ideológico".
Não é a primeira vez que se fala dos livros recomendados pelo secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães. Assim como há, sim, indicações, se não de promoções, de afastamentos determinados por intolerável ranço ideológico.
O ministro Celso Amorim deve explicações sobre esses aspectos, e o mais depressa possível.

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