Um estudo de dois economistas do FMI sustenta que o aumento da renda familiar após a abertura e o Plano Real foi muito maior que o calculado. Esse aumento teria sido de 4,5% ao ano entre 1987 e 2002, e não 1,5%, divulgado oficialmente. Isso ajuda a explicar a discrepância que houve entre o pequeno aumento da renda e a explosão do consumo desde que o Brasil abriu e estabilizou sua economia.
Os economistas, brasileiros, Irineu de Carvalho Filho e Marcos Chamon, autores do texto “O mito da estagnação da renda pósreformas no Brasil”, basearamse na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE de três períodos: 87/88, antes da abertura; 95/96, logo após o Real; e a última, em 2002/03. Houve uma queda forte da fatia da renda familiar dos mais pobres usada para a compra de alimento (abaixo, o gráfico mostra a parcela do gasto usada para comprar alimentos dos cinco primeiros decis de renda, ou seja, os 50% mais pobres). Alimentos são a primeira necessidade e, quanto maior a renda, menor a participação da alimentação no orçamento doméstico.
O mesmo método foi usado, 10 anos atrás, pela comissão Boskin, que estudou a inflação dos Estados Unidos. Lá eles concluíram que a inflação estava superestimada. O fenômeno, segundo os economistas, foi encontrado também no Brasil, mas mais forte. Deflacionado pelo IPCA, o ganho de renda acabou sendo subestimado.
O texto é ainda um working paper, e não representa a opinião do FMI, mas tem o entusiasmo de Kenneth Rogoff, ex-economistachefe do Fundo, atualmente professor em Har vard.
— O estudo é muito interessante e provocativo.
Mesmo se ele estiver apenas 1/4 certo, o efeito já é grande coisa. Honestamente, os economistas têm se perguntado por que o desempenho do Brasil após a liberalização parece tão pior quando se olha a renda e tão melhor quando se olham os indicadores de qualidade de vida, como a expectativa de vida, várias medidas de saúde e taxas de educação primária — comentou Rogoff.
O texto tem menos a preocupação de fazer uma crítica ao IPCA, e mais a de mostrar o aumento da renda.Eles calculam que há um “viés para cima” da inflação.A inflação oficial divulgada seria mais alta por não ter captado mudanças ocorridas na economia.
Há muitas causas para o viés de alta. A introdução tardia de itens de consumo na cesta de produtos pesquisados, por exemplo. Inicialmente, os novos produtos são caros; depois, os preços caem. Ao entrarem tarde no cálculo, perde-se o efeito de deflação do produto.
Outra forma de superestimação é que o cálculo da inflação não capta a troca por produtos mais baratos, quando o item consumido sobe de preço.
Rogoff diz que os economistas, em geral, estão interessados não em medir o aumento dos preços, mas em calcular, dado o aumento de preços, quanto a renda tem que subir para manter o mesmo padrão de vida.
— Por exemplo, se as tarifas de telefone fixo aumentam, mas as de telefone celular não sobem, as pessoas usam mais o celular, e isso tem que ser levado em conta.
A abertura da economia tornou acessíveis ao consumidor brasileiro vários produtos e muitas inovações tecnológicas. A estabilização produziu uma visível melhora no padrão de vida dos mais pobres, porque a inflação feria mais justamente os mais pobres.
A idéia dos economistas é que a abertura e a queda forte da inflação produziram fenômenos não captados inteiramente pelo índice de preços, como aumento do acesso a novos produtos, maior oferta de produtos, melhoria na durabilidade, maior eficiência das redes de distribuição.
Os autores separam o que está calculado oficialmente, como aumento da renda familiar per capita, e o que chamam de “verdadeiro aumento da renda”. Mostram os dados de crescimento do acesso das famílias a diversos bens. Na primeira POF (em 87), apenas 29% dos domicílios tinham máquina de lavar; na última (2002), eram 53%. A TV em cores saiu no período de 57,4% para 93,4%. E mais importante: houve uma redução forte no percentual de crianças brasileiras com peso e tamanho abaixo do padrão internacional.
Os autores concluem que o estudo apresenta evidências de que o aumento da renda familiar real está fortemente subestimado.
“Nossas descobertas também indicam um substancial aumento na distribuição de renda quando medida em termos reais.” Na opinião de Rogoff, a mais importante mensagem do trabalho é que políticas tão criticadas no Brasil, como a abertura e as reformas econômicas, podem ter sido mais bem sucedidas do que se pensava.
Entrevista:O Estado inteligente
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