Nem a filha de Dunga entende de moda. Nem Romário tem fôlego para o profissional. Nem o PFL é outro porque virou PD
A semana mal havia começado quando ao meu Outlook chegou esta trágica notícia: “No horário nobre do Multishow, as duas primeiras semanas do BBB7 obtiveram uma audiência 15% superior à do BBB6 no mesmo período”.
O crescente interesse pelo Big Brother Brasil é um dado tão desalentador quanto as últimas avaliações do Saeb e do Enem sobre o desempenho dos estudantes brasileiros, a mais recente evidência de que estamos criando uma nação despreparada até para regredir a uma nova Idade das Trevas - embora adequada para tornar perene o sucesso do Big Brother e outros reality shows.
O panorama não melhorou nos dias seguintes. Tivemos a espaventosa camisa do Dunga, chacota mundial; a patética insistência de Romário em permanecer nos gramados; e o ridículo rebatismo do PFL para PD - três momentos vexatórios só empanados, como tudo mais, pelo monstruoso assassinato do menino João Hélio, nossa última descida à barbárie.
Foi uma fraude atrás da outra. Nem Gabriela Verri, a filha modista de Dunga, entende de moda; nem Romário tem mais condições de jogar futebol profissionalmente; nem o PFL vai deixar de ser o que sempre foi trocando duas iniciais por uma. Desista de ser a personal stylist de seu pai, Gabriela. Aposente-se de vez, Romário. Esqueçam o PD, pefelistas; do contrário não poderão mais visitar a França, onde “pedê” é o que na terra do Dunga chamam de fresco e marreca.
Para espairecer um pouco, fui ler o último livro do pensador espanhol Fernando Savater, Os Sete Pecados Capitais, aqui traduzido pela Ediouro. Qual não foi minha surpresa ao deparar com uma lustral fubecada nos reality shows, em meio a uma digressão do filósofo sobre a soberba, o pecado do inchaço, segundo Santo Agostinho. Uma espécie de “celebração permanente da mediocridade” - assim Savater define esse gênero de programas, em que se colocam câmeras para espiar cinco ou seis pessoas absolutamente desimportantes, “que se dedicam a dizer vulgaridades” ou, no máximo, a fazer coisas tão “interessantes” como trocar calcinhas e insultos, fritar um ovo, aparar as unhas do pé ou dormir.
Savater confessa não entender “essa hierarquização do medíocre”. Nem eu entendo por que jornais, revistas, portais e blogs tanto promovem essa imbecilização em massa.
Eis outra fraude: os reality shows não são o que seus produtores apregoam. Já ousaram compará-los ao teatro grego, como modelos de interação público-espetáculo e “democratização mediática”, quando se sabe que seu modelo mais remoto não é a arena enobrecida pela dramaturgia de Sófocles & cia, mas a arena do Coliseu romano de triste memória, onde a malta sublimava sua impotência diante do que realmente importava decidindo, com o polegar, o destino de outros plebeus ainda mais impotentes. No BBB, no lugar dos leões, temos o paredão, outra referência de triste memória.
Big Brother é o darwinismo populista em seu mais alto grau de nocividade, um incentivo ao narcisismo, à pasmaceira e ao que na Itália fascista chamavam de “qualunquismo”, ou seja, a promoção e a valorização de qualquer um, transformado da noite para o dia em celebridade. Na medida em que se orienta por um catálogo de estereótipos, até a escolha dos participantes é uma fraude. Há sempre uma loura burra e voluptuosa reservada para o mercado de carne da Playboy, de onde também despontou para a fama a pneumática Anna Nicole Smith, encontrada morta na quinta-feira num hotel da Flórida.
Nicole era outra fraude: uma falsa Marilyn, com passagens por clínicas de emagrecimento e, pior ainda, por um reality show que tinha o seu nome e o seu Q.I. Trabalhava, ultimamente, como marqueteira de uma pílula dietética, TrimSpa X32, cuja promoção a Justiça de Los Angeles considerou fraudulenta.
“É um sinal claro de declínio social”, sentenciou James Randi, no meio da semana. Não se referia ao consumo de Big Brother, mas à fanática fidelidade de milhões de telespectadores a séries como Lost, Heroes, 4400, Medium, Ghost Whisperers e à estreante Raines, todas devotadas à propagação da crença no sobrenatural. Randi, cujas observações repercutiram através do New York Times de quarta-feira, é um dos mais enérgicos patrulheiros de ufologistas, urigellers, chopras e babalaôs de variados terreiros. Para combater fraudes pseudocientíficas e imposturas sobrenaturais, criou uma fundação, James Randi Educational Foundation, com página na internet e ligação direta com os dois sites mais freqüentados por descrentes, ateus e agnósticos leia mais por este link e também por este outrolink.
Randi não acredita em almas do outro mundo, discos voadores, ETs, cartomantes, mas em Santo Agostinho deve acreditar, já que ele, afinal, existiu de verdade. E definiu a soberba como um inchaço. “A soberba não é grandeza, mas inchaço”, disse o santo. “E o que está inchado parece ser grande, mas não é saudável”, complementou. Se Savater socorreu-se dessa frase para discorrer, entre outras coisas, sobre a fatuidade dos reality shows, não vejo inconveniência alguma em usá-la para avalizar um rápido comentário sobre outra fraude recente: as cuecas que incham a frente e o traseiro do freguês.
A primeira acepção de soberba (“elevação ou altura de uma coisa em relação a outra”) encaixa-se à perfeição em qualquer crítica que se queira fazer à Cueca Maravilha (Wonderjock), versão masculina do Wonderbra, aquele sutiã com enchimento que transforma qualquer despeitada numa Anna Nicole Smith, e também à cueca sem nome, versão glútea da Wonderjock, anunciada há dias pela loja Alberto Gentleman, no bairro carioca de Ipanema. Ambas aumentam o volume das partes que lhes tocam inchar, mas, como diria Santo Agostinho, não são saudáveis.
Além de soberbas - o que vale dizer, presunçosas e arrogantes -, trapaceiam, fazem propaganda enganosa, como as perucas, as cintas, as unhas e os cílios postiços. Hemingway encantou Fitzgerald com a história de que os toureiros espanhóis punham lenços na região do baixo-ventre para dar a impressão de que eram bem-dotados sexualmente. Dominguin, por exemplo, usava dois lenços. Com a Wonderjock, dispensaria “los dos pañuelos”.
Calcinha acolchoada, para transformar qualquer desbundada numa Jennifer Lopez, já existe há algum tempo. Cueca com objetivo similar é novidade. A desculpa de que se está valorizando “a preferência nacional” não cola. Primeiro, porque a preferência nacional ainda é o traseiro feminino. Segundo, porque o traseiro preferido, seja ele feminino ou masculino, é de carne, não de algodão ou espuma de náilon.
O estoque de cuecas tanajuras da Alberto Gentleman esgotou-se em 40 dias. Alguns clientes levaram, cada um, de dez a 15 unidades. Explica-se: a loja fica a uma quadra do reduto gay de Ipanema. Ou ela renova seu estoque ou o pessoal do futuro PD não terá o que usar na próxima viagem a Paris.
QUARTA, 7 DE FEVEREIRO
Tropeço rumo ao gol 1.000
Liberado pela Fifa para atuar pelo Vasco da Gama, Romário entra aos 13 minutos do segundo tempo no jogo contra o América, mas não evita a derrota do seu time para por 2 a 1 pela terceira rodada do Campeonato Carioca.
Entrevista:O Estado inteligente
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