Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 10, 2007

Memória O centenário de Victor Civita

100 anos de um visionário

O centenário de Victor Civita, fundador da Abril,
reafirma a sabedoria de que para construir o futuro
é preciso olhar também para o passado


Gabriela Carelli

Jorge Butsuem
Civita: "Quero ter uma nova idéia a cada dia e realizá-la". Foi o que ele fez


Um quarteirão arborizado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, tornou-se na semana passada a Praça Victor Civita. Na sexta-feira, foi assinado o termo de cooperação entre a prefeitura de São Paulo e o Grupo Abril para a criação da Praça Victor Civita, que será inaugurada daqui a um ano e também funcionará como um Museu da Sustentabilidade – a arquitetura e o paisagismo do local serão um exemplo de preservação ambiental. A cerimônia teve a presença do governador de São Paulo, José Serra, e do prefeito da cidade, Gilberto Kassab. Ela foi o auge da semana de comemorações do centenário de Victor Civita, fundador da Editora Abril, que publica VEJA. Thomaz Souto Corrêa, membro do Conselho de Administração e do Conselho Editorial do Grupo Abril, veterano colaborador de Victor Civita, disse: "Este evento homenageia no dia do centenário do seu nascimento um homem muito especial, um italiano de sangue que adotou o Brasil como pátria e nos deixou uma imensa contribuição com seu trabalho em favor do jornalismo, da cultura, da educação, da livre-iniciativa e da democracia".

Na quarta-feira, uma emocionante festa na Sala São Paulo reuniu 800 pessoas. Políticos, empresários e artistas se uniram a alguns dos mais antigos colaboradores de Victor Civita. Os convidados viram trechos do documentário Paixão por Fazer, que mostra a trajetória de VC, como ele era chamado na Editora Abril. Para muitos, era "seu Victor", sempre pronto a dar conselhos – alguns enigmáticos, todos muito espirituosos e encorajadores. "Você está começando. Se fizer tudo direito terá na Abril recompensas morais e financeiras (pausa)... mais morais do que financeiras", disse em 1984 a um repórter iniciante que hoje dirige uma revista semanal da Editora Abril.

Na sexta-feira, os Correios lançaram um selo com a efígie de VC. A praça, o selo e o documentário comemoram a história de um empreendedor visionário que, em 1950, fundou em São Paulo uma pequena editora para publicar a revista infantil O Pato Donald e a transformou em um dos maiores e mais influentes grupos de comunicação da América Latina.

"Ele tinha duas das maiores qualidades de um homem: sonhar com projetos grandiosos e ter a capacidade de realizá-los", disse a atriz Fernanda Montenegro, apresentadora da festa do centenário. Essa opinião é compartilhada pelos que de alguma forma conviveram com Civita – ou "pelos milhões de brasileiros que tiveram sua vida tocada pelo trabalho de VC", como disse Roberto Civita, seu filho mais velho, presidente do Grupo Abril e editor de VEJA. O entusiasmo de VC pela vida e a persistência para concretizar seus projetos eram inquebrantáveis. "Entre as principais coisas que aprendi com ele estão a necessidade de fazer bem-feito qualquer coisa que se faça, de pensar grande e de nunca aceitar um não como resposta", completa Roberto Civita.

Manoel Marques
Roberto Civita: "Aprendi com ele a nunca aceitar não como resposta"


Quando fundou sua pequena editora numa sala do centro da cidade, Victor Civita ouviu de amigos e empresários que sua empreitada era lunática. O Brasil, diziam-lhe, não estava pronto para consumir revistas modernas, com padrão equivalente ao das melhores publicações do mundo. O Brasil, diziam a VC, é um país de analfabetos. Os banqueiros repetiam os mesmos argumentos e fechavam-lhe as portas. "Se eu tivesse aceitado a centésima parte dos nãos que ouvi, nenhuma das empresas que fundei existiria", disse Victor Civita numa conferência em 1986. Se o leitor brasileiro não tinha gosto apurado era simplesmente porque não teve acesso a publicações de qualidade mundial. Se há muitos analfabetos no país é preciso alfabetizá-los... Esse era VC. Transformava desafios em oportunidades.

Victor Civita nasceu em Nova York, filho de pais italianos que dois anos depois de seu nascimento regressaram para o país de origem. Foi criado em Milão até os 20 anos, quando ganhou do pai um talão de cheques, uma passagem para os Estados Unidos e a seguinte ordem: "Vire-se". O futuro empresário perambulou por várias cidades americanas durante quase um ano, visitou fábricas e conheceu os costumes locais. Acabou por voltar a Milão, onde se dedicou aos diversos negócios do pai – entre eles uma firma de representação de máquinas americanas e uma oficina automobilística. Casou-se em 1935 com Sylvana Alcorso. No ano seguinte nascia o primeiro filho do casal, Roberto. O segundo, Richard, viria ao mundo três anos depois.

Em 1939, a família foi morar nos Estados Unidos, onde permaneceu dez anos. Em uma visita ao Brasil, Civita entusiasmou-se com a possibilidade de fazer negócios no país e chamou a mulher e os filhos para se mudarem para São Paulo. No ano seguinte, com o lançamento de O Pato Donald, deu início à construção do que viria a ser o Grupo Abril. Victor Civita morreu de infarto fulminante no fim de agosto de 1990. Até o último dia, em sua sala, demonstrava o entusiasmo que marcou sua personalidade. Suas últimas energias foram direcionadas a colocar de pé a fundação que leva seu nome e que hoje beneficia 25 milhões de alunos das escolas públicas. Sua mensagem definitiva: "Quero ter uma idéia nova a cada dia e realizá-la".

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