Lula quer entrar na História como estadista
Lula quer entrar na História como o primeiro torneiro-mecânico a se eleger presidente da República. Não uma, mas duas vezes. Já entrou.
Lula quer entrar na História como o presidente que promoveu a maior distribuição de renda já realizada no Brasil. Também já entrou.
Lula quer entrar na História como o pai dos pobres, o presidente messiânico que se tornou um mito, o líder que conduziu seu povo à Terra Prometida.
Lula não quer entrar na História como o presidente do mensalão, dos aloprados do dossiê, da violação de sigilo bancário de um cidadão indefeso, dos sanguessugas.
O presidente do crescimento medíocre, da classe média esmagada sob o peso dos impostos, dos juros obscenos e do mercado financeiro gordo e feliz.
Lula quer, sobretudo, entrar na História como um presidente mais popular que Fernando Henrique, sua obsessão particular. Mais querido que Juscelino, a quem não conheceu, mas cita a torto e a direito – mais torto do que direito.
Um presidente mais carismático que Getúlio, a quem Lula não conheceu, e que também cita erradamente a toda hora.
Lula é um presidente à procura de um legado para deixar aos brasileiros. Em 2010, será a primeira vez desde 1989 que uma eleição presidencial não conta com o nome de Lula na chapa. O que não é dizer pouco.
Mas 2014 está ali pertinho, e um legado aos brasileiros durante este segundo mandato que mal se iniciou traria “Lula de novo com a força do povo” – não precisaria nem compor um jingle diferente.
O problema é o legado. O Bolsa-Família é uma poderosíssima arma eleitoral, uma fábrica de votos. Mas é só. Não contém sonho, aposta, olhar para o futuro.
O Bolsa-Família garante a uma boa parcela da população que amanhã vai ser igual a hoje.
Mas um verdadeiro projeto aponta para a esperança de que amanhã seja diferente de hoje – e muito melhor.
O Programa de Aceleração do Crescimento sequer é um projeto para o futuro. É um balaio de gatos. Tem projetos ambiciosos misturados com estradinhas vicinais, tem projetos já aprovados com projetos em andamento.
Não é coisa de estadista, é coisa de burocrata da Esplanada dos Ministérios. Basta limpar as gavetas – como tem projeto em gavetas de Brasília, meu Deus! – e costurar tudo com um nome bonito, fazer um powerpoint e pronto!
Getúlio e Juscelino, só para ficar nesses exemplos sempre citados pelo presidente Lula, foram estadistas de verdade. Arrabataram o país, que aderiu com entusiasmo, tanto aos projetos de construção do Estado, sob Getúlio Vargas, como ao Programa de Metas de Juscelino.
Já o PAC... Burocrático, pequenininho, medíocre. Não despertou a menor paixão, só críticas e adesões protocolares. Nem os áulicos de plantão tiveram uma palavra de aprovação com relação ao PAC.
Convenhamos que é muito difícil ter algum entusiasmo a respeito de uma lista de obras que propõe, entre outras platitudes, o aumento de 700 vagas de automóveis no aeroporto de Confins! Como todo o respeito aos mineiros, naturalmente.
Lula já tem seu lugar na História, mas certamente não é como estadista. Pelo menos não ainda.
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, fevereiro 07, 2007
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