Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Cientista político culpa também oposição por Míriam Leitão -

O cientista político Octavio Amorim, da Fundação Getúlio Vargas, leu a coluna que publiquei hoje no Globo, sobre a entrevista do embaixador Abdenur, e fez os seguintes comentários. Ele diz que o Congresso e a oposição também são responsáveis por o que acontece hoje na política externa do país. Aqui segue sua análise:

"A entrevista do embaixador Roberto Abdenur à revista "Veja" e sua coluna "Alerta vermelho", no Globo, devem ser vistas como um sinal gravíssimo do que se passa hoje no Itamaraty. O Congresso e a oposição, contudo, também têm sua responsabilidade nesta triste história. Numa democracia, um dos papéis precípuos do Poder Legislativo é supervisionar o Poder Executivo, a fim de que este governe bem, a fim de forçá-lo a retificar os seus erros. Quando uma questão diz respeito às relações exteriores do país e à organização da nossa chancelaria, o Senado é a principal Casa Legislativa em que deve ser discutida. E o que tem feito o nosso Senado diante de tudo que tem sido denunciado não apenas pelo Embaixador Abdenur? Muito pouco ou quase nada. Isso se explica porque a sua maioria é governista. Mas o que tem feito a oposição parlamentar? Muito pouco ou quase nada também.

Nossos parlamentares, em geral, escudam-se na noção de que questões internacionais não têm relevância eleitoral no Brasil para pouco ou nada fazer em matéria diplomática. Porém, justamente por isso, a liderança dos partidos, principalmente os da oposição, deveria fazer um enorme esforço para que alguns de seus deputados e senadores se especializassem a fundo nesse assunto crucial. Os partidos não podem subordinar a sua ação parlamentar exclusivamente a supostos incentivos eleitorais (no caso, a falta de relevância doméstica de temas internacionais). Todavia, no que toca à política externa, o que se observa é tal subordinação, à exceção dos partidos de esquerda. Como estes estão com o governo, o Congresso praticamente não tem mais voz autônoma em temas internacionais.

O resultado está aí. Não há um senador com autoridade, auto-confiança e conhecimento suficiente em problemas diplomáticos e de gestão do MRE para submeter o atual chanceler a uma sabatina semelhante a que Pedro Simon submeteu Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, em 1998. Sabatina que, de tão contundente, levou à demissão de Mendonça de Barros.

O atual governo brasileiro tem a sua política externa e um claro programa de reorganização da chancelaria, e os está executando sem grandes obstáculos internos. Se esta política e este programa padecem de graves erros, então, só haverá uma real chance de retificá-los se o Congresso e a oposição parlamentar se levantarem."

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