A televisão convencional será engolida pela internet
em cinco anos. Essa é a aposta de Bill Gates
Carlos Rydlewski
Divulgação |
Eles de novo: depois do KaZaA e do Skype, Zennström e Friis lançam o Joost (acima) |
A televisão será absorvida pela internet em cinco anos. Evidências dessa profecia, feita por Bill Gates na semana passada, são cada vez mais freqüentes. A mais recente foi exibida ao mundo por Janus Friis, de 30 anos, e Niklas Zennström, de 40 – os inovadores que mudaram a indústria fonográfica com o KaZaA e viraram de ponta-cabeça o mercado global de telecomunicações com o Skype. Agora, a dupla lançou um software, batizado de Joost, que permite ao usuário de internet capturar e assistir (como e quando desejar) a programas de televisão dispostos numa espécie de videoteca. Detalhe: não são pequenos vídeos como os do YouTube. São canais completos como o National Geographic, o Warner e a MTV. A nova ferramenta de Friis e Zennström não está sozinha nesse mercado. Quase todas as companhias de telecomunicações do mundo entraram – ou estão prontas para entrar – nesse filão. No fim do ano passado, foi a vez de a AT&T lançar um serviço de televisão pela internet nos Estados Unidos. Ele já atinge uma dezena de cidades. Oferece conteúdo com 400 canais de filmes, shows, esportes e noticiários, alguns ao vivo, sendo que 54 deles com imagens de alta definição. Nesse caso, é a Microsoft que fornece o software. Em 2006, o total de assinantes de serviços de televisão pela web já alcançava a cifra de 5,3 milhões de pessoas em todo o planeta. As consultorias estimam que a audiência de TV pela rede de computadores deva atingir quase 50 milhões de pessoas em 2010 – só na China serão 6 milhões. Ou seja, em quatro anos, a expectativa é de um crescimento da ordem de 840%.
Mas o que isso muda na rotina dos telespectadores? Muita coisa, como demonstram algumas propriedades do Joost. Interativo, o software tem recursos semelhantes aos de comunidades virtuais. Por meio dele o espectador discute e avalia o conteúdo da programação em chats (canais de bate-papo) e ainda pode acessar blogs ou notícias. Tudo isso em "janelas" abertas simultaneamente no monitor do computador ou, com o uso de um decodificador, no aparelho de TV convencional. Pode-se dizer que é o fim da passividade diante da televisão. Nessa nova TV, que usa o protocolo da internet (IPTV, na sigla em inglês), a transferência de dados é feita sem a necessidade de download. É usada uma tecnologia conhecida como streaming, nesse caso a mesma do YouTube. Em tese, não há limite para a oferta de canais na IPTV. Eles são negociados com os fornecedores de conteúdo. Transformadas em bits, essas informações visuais têm um custo de armazenamento cada vez mais irrisório. Assim, com o tempo, o webespectador pode contar com uma oferta de programas quase infinita. O requisito de acesso é a banda larga.
No Brasil, a chegada da IPTV ainda depende de uma decisão regulatória. A oferta desse tipo de serviço está condicionada à aprovação da Anatel. As discussões prometem ser longas por vários motivos, todos associados à mudança de paradigma proporcionada pela televisão na web. A médio prazo, ela vai alterar até a lógica do mercado de publicidade na TV. Em Brasília, a Brasil Telecom já ensaia disponibilizar esse serviço. A empresa lançou um projeto piloto no fim de 2006, em que coloca à disposição dos usuários da internet 300 horas de programação de vídeos on-line sob demanda. Mas não se trata de programas semelhantes aos da TV aberta ou a cabo. É justamente para oferecer esse segundo tipo de programação que a companhia espera por uma eventual autorização da Anatel. E, no momento em que isso ocorrer, empresas como a Telefônica também vão lançar a IPTV no mercado brasileiro. Fora do Brasil, a companhia espanhola já tem 305 000 assinantes desse serviço e ocupa o quarto lugar no ranking mundial de provedores de IPTV. Os otimistas acreditam que o sinal verde da agência reguladora nacional pode ser dado ainda em 2007. Mas esses são os otimistas.
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