Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

França A socialista Ségolène apresenta seu programa de governo

Só um rosto bonito

Se eleita, Ségolène Royal promete gastança
na França, sem dizer de onde virá o dinheiro


Antonio Ribeiro, de Paris

Jacky Naegelen/Reuters
Ségolène vestiu-se de vermelho para ir à periferia


Sempre vestida de branco, Ségolène Royal, a candidata socialista, passou os dezoito primeiros meses da campanha presidencial sem deixar claro o que faria se eleita. Questionada, desconversava: "Os franceses dirão o que deve ser feito". Madame Royal conseguiu, embora com 8 pontos nas pesquisas atrás do candidato de centro-direita, Nicolas Sarkozy, posicionar-se na primeira fila para a largada das eleições em abril. No entanto, a candidatura da primeira mulher com chance de governar a França estagnou. Na semana passada, Ségolène trocou de figurino. Vestiu um traje vermelho para apresentar suas propostas em um comício nos subúrbios pobres de Paris. Diante de 10 000 simpatizantes, Ségolène Royal fez um preâmbulo assustador. Se fosse obrigado a cotizar a dívida pública, cada francês deveria desembolsar 18 000 euros. A platéia chegou a pensar que viria um plano de apertar os cintos. Nada disso. Ségolène listou a velha ladainha keynesiana, tão querida da esquerda francesa, de gastos governamentais para aquecer a economia. De onde sairão os recursos? Ora, dos impostos que já consomem 64% das riquezas produzidas no país. A socialista prometeu aumentar o salário mínimo e o seguro-desemprego. Para os desempregados com menos de 18 anos, o Estado emprestará 10.000 euros sem juros para abrir um novo negócio – 22% dos jovens franceses estão desempregados.

A equipe econômica da candidata estuda dois mecanismos novos do velho ideário: taxar a renda dos franceses que moram no exterior e castigar as companhias que pagam dividendos em vez de reinvestir os lucros. A questão da jornada de trabalho de 35 horas semanais, exclusividade mundial made in France, será analisada mais para a frente. Eleita, ela quer construir 120.000 moradias para os franceses de baixa renda. Se a iniciativa privada não se interessar pela empreitada, o Estado fará no seu lugar. Os economistas estimam que o programa custará em torno de 35 bilhões de euros para um Estado que só no ano passado produziu um déficit orçamentário de 50 bilhões de euros. Ficou de fora dessa conta uma promessa mais difícil de quantificar. Ségolène diz: "Eu quero para as crianças francesas o mesmo que ofereci aos meus filhos". A perspectiva de uma presidência maternal indulgente aliada a um Estado insaciável não parece ser um casamento que agrade à maioria dos franceses. Uma pesquisa realizada depois da intervenção de Ségolène revela que poucos pretendem mudar seu voto.

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