Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Espanha Terrorista do ETA em greve de fome há 100 dias

O monstro do ETA
quer voltar às ruas

O pior terrorista basco faz greve de fome
há 100 dias exigindo ser libertado na Espanha


Denise Dweck

Emilio Naranjo/AP
De Juana: ele ri da dor da família das vítimas dos atentados
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Todo movimento terrorista, independentemente das atrocidades próprias de sua natureza, dispõe de uma besta-fera que sobressai pelo zelo psicopata de suas matanças. No ETA, o grupo separatista basco, esse notório assassino sem remorsos é José Ignacio de Juana Chaos. Preso desde 1987 e condenado pela participação em onze atentados terroristas, com saldo de 25 mortos, De Juana completou na quarta-feira passada o centésimo dia de uma greve de fome cuja reivindicação causa arrepios entre os espanhóis: ele quer ser solto. A lógica da greve de fome como meio de persuasão é baseada em dois princípios. O primeiro é forçar o governo a ceder às exigências do grevista para evitar o custo político de uma morte sob a custódia das autoridades. O segundo é despertar a compaixão da opinião pública e, dessa forma, angariar solidariedade a sua causa.

Membro do comando Madri, um dos mais ativos do ETA, De Juana, hoje com 51 anos, não é merecedor de pena. Quase duas décadas de cadeia não foram suficientes para que demonstrasse arrependimento ou, pelo menos, passasse a apoiar a facção do terrorismo basco disposta a negociar uma solução de compromisso com o governo espanhol. Após um atentado do ETA em Sevilha, em 1998, De Juana escreveu, da prisão, a uma amiga: "Adoro ver o rosto transtornado dos parentes das vítimas. O choro delas é o meu sorriso". Em outro trecho, como se fosse um vampiro, ele se deleita com o sangue derramado: "Com a ação de Sevilha, fiquei alimentado para todo o mês". Poucos meses depois dessa carta, ele pediu ao diretor da prisão champanhe para comemorar o assassinato de um vereador.

As demonstrações de frieza deixaram promotores de prontidão para evitar que o terrorista fosse solto em 2004. Sua condenação foi de 3.000 anos em regime fechado, mas a legislação dos anos 80 permitia que a pena fosse reduzida para meros dezoito. Continuou preso devido a artigos publicados no jornal basco Gara, no fim de 2004, considerados ameaças terroristas. A sentença pela publicação dos artigos saiu em novembro de 2006. A Justiça espanhola o condenou a mais doze anos de cadeia e, em protesto, ele iniciou a atual greve de fome (a terceira em seu currículo). Na semana passada, o Supremo Tribunal da Espanha reduziu a pena para três anos, mas o condenado diz que continuará em jejum até obter liberdade incondicional.

O terrorista já perdeu 20 quilos e os médicos dizem que ele pode morrer, sobretudo por ter começado essa nova greve de fome apenas trinta dias depois de encerrar uma outra. Tantos dias sem comer só não é um recorde porque, desde dezembro, De Juana Chaos foi amarrado à cama para ser alimentado à força por uma sonda nasal. Em situação como a dele, com alimentação por tubos, um presidiário inglês sobreviveu durante 385 dias, na década de 70, em protesto contra uma acusação de estupro. Com isso, o governo espanhol enfrenta um dilema. Se a Justiça o libertar devido às condições físicas debilitadas, colocará na rua um notório defensor do terrorismo. "Seria um choque ver um terrorista com 25 mortes nas costas sendo libertado depois de apenas vinte anos, com o sangue das vítimas ainda quente", disse a VEJA o cientista político Francisco Llera, da Universidade do País Basco, em Bilbao. Se De Juana não resistir à greve de fome, sua morte virá em péssimo momento para o governo espanhol. Depois de meses negociando o fim do terrorismo, sob a crítica da oposição e de familiares das vítimas do ETA, as esperanças de paz do governo do primeiro-ministro José Luis Zapatero foram solapadas por um atentado no aeroporto de Madri que matou duas pessoas, há dois meses. Uma morte dramática de De Juana poderia transformá-lo em um mártir do separatismo basco e desencadear nova onda de ataques.

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