Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 06, 2007

A corrupção do PT certificada



editorial
O Estado de S. Paulo
6/2/2007

A ser divulgada amanhã, a 'Mensagem ao Partido', cujo principal signatário é o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, configura um ataque frontal ao chamado Campo Majoritário que controla o PT e aparelha os seus governos pelo menos desde a eleição do então deputado José Dirceu para presidente da sigla, em 1995. Apesar da notoriedade do seu mentor, o documento de 30 pontos, na versão que circulou no fim da semana, seria apenas mais uma das manifestações dos confrontos internos tão inerentes à história da legenda como a estrela vermelha que a simboliza, não fosse por um 'pequeno detalhe': o texto reabre as feridas do escândalo do mensalão - e o faz sem rebuços.

Diferentemente do eufemismo oficializado na agremiação por iniciativa do presidente Lula para sanitizar o vexame, a palavrosa mensagem não usa uma única vez o termo erro. Diz que o PT 'viveu uma crise de corrupção programática e ética (??), não apenas conjuntural e não apenas decorrente de desvios comportamentais ou de pequenos abusos de poder e de confiança'. Ao investir contra a hegemonia absoluta do núcleo dirigente, afirma que este 'nos legou uma grave crise ética e política, que trouxe impactos imprevisíveis acerca do futuro do PT'. Cabe lembrar que toda vez que esse mesmo diagnóstico aparecia na imprensa, os petistas faziam uma pausa tática nas suas quizílias e se precipitavam de braços dados contra o suposto complô da mídia para destruir o partido e desestabilizar o governo.

O próprio Tarso Genro não ficou alheio à operação que visava a transformar os responsáveis pela crise de corrupção no partido, no Congresso e no governo em vítimas de um golpe das elites: enquanto hasteava com a mão esquerda a tese da refundação do PT, brandia com a direita essa conveniente teoria conspiratória. Ainda há uma semana, aliás, ele acusou a imprensa de estar sob controle do poder econômico e de promover a 'destruição cruel' do Legislativo, como se esta não tivesse sido obra da famosa 'sofisticada organização criminosa' denunciada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, para 'garantir a permanência do PT no poder'. De todo modo, à parte o seletivo senso ético do ministro e a sua insistência em negar que pretenda 'incriminar indivíduos', o que seria para ele um 'reducionismo', o essencial é que o alvo primeiro de seus escritos e falas se chama José Dirceu.

Não é preciso levar as suas manifestações ao microscópio para saber a quem Genro se refere quando denuncia a 'vocação autoritária' dos controladores do partido - cuja danação política ele espera abertamente que resulte do próximo congresso nacional do PT, em julho. Nem há de ser mera coincidência a declaração de guerra ao Campo Majoritário, às vésperas da reunião do diretório nacional sábado próximo, em Salvador, e a vigorosa recuperação política do ministro demitido e deputado cassado que voltou a ser, mais ainda do que o verdadeiro líder do grupo, o primeiro entre os petistas em matéria de influência dentro e fora do partido, com exceção - em termos - do presidente Lula. Falam por ele todos quantos, na reunião do Campo, domingo, metralharam Genro, a sua mensagem e a sua renovada proposta da refundação.

'É uma tese boba, besta e extremamente prejudicial ao partido', fulminou o secretário-geral do PT paulista, João Antonio, no encontro em que o ex-ministro foi ovacionado e a 'despaulistização' da cúpula partidária - o remédio de Genro para a 'crise de corrupção programática e ética' - repudiada. Não surpreende: Dirceu teve parte com a eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara e trata de ter parte com as escolhas do presidente para o Ministério e outros cargos estratégicos. A prova dos noves do seu ressurgimento será a mobilização do partido para a coleta do 1,5 milhão de assinaturas para a formalização de um projeto de lei de iniciativa popular destinado a lhe devolver os direitos políticos suspensos quando foi destituído do seu mandato.

E por que o PT não se lançaria a tão justa empreitada? Afinal, os mensaleiros já voltaram do ostracismo e ajudaram a eleger Chinaglia.

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