O Estado de S. Paulo |
15/2/2007 |
Com indisfarçável perplexidade, os especialistas estão observando que apenas os países emergentes já acumulam reservas externas de US$ 3 trilhões. Só a China tem mais de US$ 1 trilhão. Como esses recursos estão sendo aplicados preponderantemente em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, segue-se que são os países pobres que estão emprestando dinheiro para o país mais rico do mundo. Trata-se de uma notável inversão da situação que prevaleceu até meados dos anos 90. Por que isso aconteceu e continua acontecendo é uma história conhecida. Importa agora saber até onde vai essa febre. E o que pode acontecer se vierem a faltar títulos do Tesouro americano para continuação da construção dessas torres de Babel. Essas perguntas são importantes por várias razões. Aqui vão duas: (1) porque há o risco de forte desvalorização do dólar e, se isso acontecer, as reservas também se desvalorizarão, anemia que poderá custar caro para países emergentes que fizeram seu baú com tanto sacrifício; e (2) porque o presidente Bush acaba de anunciar o fim do déficit orçamentário dos Estados Unidos em cinco anos. O fim ou uma substancial redução do déficit orçamentário americano diminui a necessidade de emissões de títulos. Ou seja, podem faltar ativos para atender à necessidade de formação de reservas pelos países emergentes e para dar conta da demanda do mercado financeiro global. Por isso, e eventualmente por outras preocupações, têm pipocado no noticiário informações de que bancos centrais importantes estudam ou já decidiram diversificar reservas, como já deixaram claro autoridades da China e de países produtores de petróleo. Diversificar reservas significa aumentar a participação de ativos denominados em moedas diferentes do dólar. Por enquanto, esse movimento é apenas marginal. Não há notícias de mudanças significativas na composição das reservas. As emissões de títulos soberanos em euros ou ienes é relativamente baixa. Enfim, há pouca opção fora dos onipresentes títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O economista-chefe do grupo Santander, André Lóes, observa que, na hipótese de sobrevir um descasamento entre oferta e procura de ativos com qualidade para integrar as reservas, algumas opções podem ser imediatamente postas em prática. Uma delas é aplicar em títulos de empresas de primeira linha (triple A), também considerados quase soberanos. Há indício de que isso já esteja acontecendo, ainda que em pequena escala. Outra opção seria a de que o próprio Tesouro americano emitisse títulos em outras moedas. Os países emergentes não vendem títulos em dólares, euros ou ienes? Por que o Tesouro americano não poderia fazer o mesmo? Além disso, nada impediria que títulos de países emergentes viessem a compor as reservas de outros emergentes, mais ou menos o que a Venezuela fez temporariamente com títulos da Argentina. Ou, então, que títulos quaisquer viessem acompanhados de seguro contra calote que os tornassem superseguros. “Inovações desse tipo podem acontecer a qualquer momento” - lembra André Lóes. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, fevereiro 15, 2007
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