Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 04, 2007

CELSO MING A conta da catástrofe

A conta da catástrofe

Já não há mais dúvidas, o Planeta está com câncer. Sem uma imediata quimioterapia, não haverá reversão. Foi o que concluiram 600 cientistas no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que terminou quinta-feira em Paris.

A doença foi inoculada por ação do homem. A grande concentração de dióxido de carbono (CO2) e, mais do que isso, o aumento dessa concentração têm como causa principal a queima de combustíveis fósseis e as mudanças no uso do solo, enquanto a maior concentração de óxido nítrico e de metano deve-se à expansão da agricultura.

O aumento da temperatura média do planeta está derretendo o gelo dos pólos e as neves (antes eternas) depositadas nos picos das cordilheiras. Os prognósticos são apocalípticos: o nível dos oceanos aumentará, sobrevirão furacões, enormes inundações e secas prolongadas.

Até agora, os maiorais do mundo pouco ligaram para o que vem acontecendo. Mas as condições políticas parecem mudar. O próprio presidente Bush, cujo governo reflete reconhecida influência das companhias de petróleo, anunciou dia 23, no seu discurso sobre o Estado da Nação, programa de dez anos destinado a substituir por álcool 20% da gasolina queimada pelos veículos americanos. O governo americano dispõe-se a reduzir a dependência do uso de combustíveis fósseis não mais apenas por questões geopolíticas (para reduzir a força dos governos que apóiam o terrorismo), mas também para atender a emergências ambientais. E esse não deixa de ser elemento novo, especialmente quando se leva em conta que até agora o governo americano boicotou as disposições do Protocolo de Kyoto, acordo entre governos destinado a enfrentar o problema do aquecimento global.

Um grupo de cientistas denunciou a Exxon-Mobil por ter aplicado US$ 15 milhões em campanhas destinadas a convencer a opinião pública de que o aquecimento global é fantasioso. Acusa a Exxon de ter cometido o mesmo crime da indústria de tabaco, que despejou centenas de milhões de dólares em operações de desinformação sobre os males causados pela absorção de nicotina. Ao contrário do que aconteceu no passado, denúncias assim já não são mais ignoradas.

Se não há divergências no diagnóstico, a questão seguinte consiste em saber o que fazer para reverter o processo. Apelos de natureza ética e advertências aterradoras ajudam a criar consciência. Incentivos à produção de combustíveis verdes ou de fontes alternativas de energia também produzem algum impacto. Mas nada seria mais conseqüente do que repassar a conta para os consumidores que, em última instância são os emissores dos gases da catástrofe. As condições para a virada do jogo só se criam quando a dor irrompe no bolso.

Sexta-feira, um administrador de investimentos (Garrett Gruener) e um especialista da Universidade de Berkeley (Daniel Kammen) sugeriram, em artigo publicado no Los Angeles Times, a criação de um imposto de 37 centavos de dólar por galão (3,78 litros) de gasolina consumida nos Estados Unidos e de US$ 30 por tonelada de CO2 emitida pelas empresas de energia elétrica. O imposto arrecadaria US$ 180 bilhões por ano, que seriam aplicados na substituição gradativa de combustíveis poluentes.

O relatório final do Painel de Paris depende ainda das discussões de dois grupos de trabalho a serem realizados neste semestre e cujas conclusões serão divulgadas em novembro.

Arquivo do blog