Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 11, 2007

Bush vai trazer investimentos Alberto Tamer


O Brasil tem agora imensa oportunidade de abrir um novo mercado nos EUA. Tão importante que Bush vem aqui tendo como agenda principal negociar acordos para trazer investimentos para o etanol brasileiro. Está entusiasmado com ele e, no Congresso, citou o Brasil como exemplo. Ele quer importar nosso etanol o mais rápido possível! Não é que ele ame o Brasil. É que, pela primeira vez na história recente, os EUA precisam do nosso álcool, da nossa biomassa, que temos e podemos produzir imediatamente tanto quanto quisermos.

Essa é mais uma conseqüência da guerra do Iraque e da explosão dos preços do petróleo - em grande parte especulativa, sim, mas por causa de idiotices dos aiatolás iranianos e do “generalíssimo” Chávez. Os iranianos ficam sempre ameaçando bloquear a saída do Golfo Pérsico e a Venezuela, a pedir reuniões extraordinárias para aumentar ainda mais os preços. Dividiram a Opep. Ainda bem.

Bush foi claro na apresentação do Orçamento no Congresso. Hoje, a prioridade é reduzir a dependência energética, principalmente de gasolina. E aí estamos nós.

A revista UpDate, editada - e muitíssimo bem - pelo colega Adhemar Altieri, apresenta, em seu número de fevereiro, que está nas principais bancas, uma capa sugestiva: “Bush, mr. ethanol?”. A reportagem, Era do álcool - Ano 1, é leitura obrigatória: excelentes dados, entrevistas e pesquisas mostrando que Bush não está falando à toa. Ele fez uma demorada visita ao laboratório da Du Pont, em Wilmington, nos EUA, onde estão sendo pesquisados novos produtos, como o biobutanol, derivados de celulose. Mas, no seu discurso no Congresso, só falou e falou no etanol!

SOROS E GATES FASCINADOS

Grandes investidores como George Soros e Bill Gates entraram no negócio do álcool, primeiro na Califórnia e agora no Brasil. E não são só eles. Sir Richard Branson, presidente do Grupo Virgin, já tem planos para investir US$ 400 milhões para construir usinas de etanol nos Estados Undios. E, olhem, é só o começo.

Enfim, para o agronegócio e para o Brasil, o futuro está perto. Falta saber agir e não errar de novo, como sempre erramos - principalmente neste governo obstinado de ideologia antiamericanista. Só que, para proteger e ajudar os trabalhadores que ganham um, dois ou mesmo três salários mínimos - o tão decantado “Plano Social” do governo -, está pouco interessando de onde vem o que consomem. Basta ver os supermercados vendendo a rodo produtos estrangeiros baratos, vindo até da Rússia!, graças à inteligentíssima política cambial brasileira, para a qual, só agora, o nosso bem-intencionado presidente da República parece acordar. Mas tem muita gente importante ao seu lado - não “do” seu lado - mandando muito e atrapalhando ainda mais.

CUIDADO, HÁ DESAFIOS

Mas o governo deve estar muito bem preparado para essas negociações - por favor, srs. do Itamaraty, não atrapalhem novamente - pois há poderosos lobbies americanos operando. Quase toda a produção de etanol nos EUA é feita de milho e só o Havaí e a Louisiana produzem em grande escala. Graças ao poderoso lobby do milho e da pecuária, diz a reportagem, Bush aprovou em 2002 um enorme aumento de subsídios, de US$ 190 bilhões. E é isso que está agora travando as negociações sobre a liberalização do comércio internacional, a quase jocosa e eterna Doha. Eles estão tentando proteger-se do Brasil, impondo uma tarifa extorsiva por cada galão importado para reduzir a penetração do etanol brasileiro. O nosso é consideravelmente mais barato, temos tecnologia mais avançada e terras extensas e planas para produzir. Eles jogam com todo poder parlamentar contra o etanol brasileiro.

FORD, A PRIMEIRA

Uma informação original da UpDate diz que o primeiro carro fabricado nos EUA, pela Ford, no início usou álcool como combustível! Talvez seja por isso que essa mesma Ford seja agora a primeira a tentar ser líder na produção de carros movidos a álcool. A GM quer vender 400 mil, ante 250 mil da Ford. Já existem, continua a UpDate, 110 usinas de etanol e mais de 60 estão em construção. Mas o consumidor americano ainda vai resistir e só cederá mesmo quando a gasolina passar muito de US$ 3 por galão (um galão equivale a 3,78 litros).

PSEUDOCONSERVACIONISTAS

Mas há também o lobby ultrapoderoso de outros setores. Os pseudoconservacionistas temem a “destruição de florestas para produzir milho e açúcar”. Têm muitos técnicos “contratados”dizendo que o tal do etanol não é lá essas coisas. Há também os que argumentam que o preço do milho pode ir às nuvens, “ameaçando a pecuária, a produção de leite, de carne...”

AO PRESIDENTE LULA

Presidente Lula, eu respeito muito o seu atual interesse em acertar, em corrigir erros. Permita-me um conselho: avoque para si essa questão, pois, acredite, dificilmente se verá na história os poderosos e soberbos Estados Unidos, o de US$ 13 trilhões de PIB, precisar de nós. E, sabe, eles precisam mesmo! Convoque um pequeno grupo de técnicos de alto nível, mas não deixe passar essa oportunidade. Presidente Lula, eles estão investindo no biocombustível brasileiro, querem investir, vão investir mais. Não deixe que ninguém atrapalhe, presidente, pois cada dólar de investimentos externos significa um número enorme de empregos, salários, rendas, dólares da exportação. Em suma, crescimento econômico sustentável e menos pobreza. É isso o que o senhor, presidente, e todos nós queremos.

BRASIL E AMBIENTALISMO

Aos que me pedem para comentar a questão ambiental, irei fazê-lo. Recomendo primeiro o livro de Sandra Marcondes, Brasil, amor à primeira vista - Viagem ambiental no Brasil. Bem pesquisado, 687 citações, lúcido, mostra como o tema não é novo e conclui com uma série de fontes extremamente úteis. Editora Peirópolis, 11-3816-0699.

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