Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 11, 2007

Ajustar as velas Celso Ming



Marinheiro não tem direito de reclamar de vento contrário se não sabe para onde quer navegar - ensinava o romano Sêneca, no século 1º d.C.

E este é um dos problemas da sociedade brasileira e de quem se sente de alguma maneira responsável por ela. São enormes as críticas e, para os críticos, todos os ventos são contra. Mas, quando se pergunta para onde temos de ir, as respostas são vagas e pouco objetivas.

Alguns dizem que é preciso seguir a trilha aberta pela China e pela Índia, o que garantiria vigorosas exportações com crescimento econômico exuberante. O problema é que não dá para exigir produto chinês com condições brasileiras. Lá, eles têm governo autoritário, economia fortemente centralizada, salário de servo de gleba e, ao mesmo tempo, poupança equivalente a 40% do salário. Férias, 13º salário, organização sindical e trabalhista, previdência social, plano de saúde, viagens ao exterior, celular, ensino superior, essas coisas, só mesmo para os novos mandarins e, ainda assim, se estiverem de bem com o establishment.

Como foi comentado aqui em outras oportunidades, a economia mundial está passando por importantes mudanças de padrão. A atuação da China e de um punhado de emergentes asiáticos se encarrega de achatar os preços dos produtos industrializados, a inflação mundial rasteja, há uma impressionante quantidade de dinheiro sobrando no mundo, o capital financeiro cresce mais do que os ativos reais, por toda parte bens fabricados com baixo custo de mão-de-obra asiática tomam mercados de produtos tradicionais.

Os Estados Unidos emergiram como potência econômica (e política) no final do século 19. Como eram auto-suficientes em matérias-primas, relegaram a América Latina à irrelevância. As novas potências asiáticas iniciam sua decolagem sem a vantagem que os Estados Unidos tiveram quando deram seu grande salto. É o que está criando novas oportunidades para a mineração e para o agronegócio no Brasil.

No entanto, se as coisas se mantiverem como estão, o câmbio tende a ficar achatado e, para boa parte da indústria nacional, sobrarão duas opções: emigrar ou definhar. O setor produtivo corre o risco de se transformar num fazendão intermeado de campos de mineração. E a população crescentemente urbana estará disputando faixas do setor de serviços de relativamente baixa densidade econômica.

Como a riqueza ficará concentrada em segmentos de baixo emprego de mão-de-obra, o setor público terá de intervir para praticar uma política distributiva. Assim, o jogo político brasileiro tenderá a desembocar num Estado forte, possivelmente clientelista.

O que tem agora de ser perguntado é se é isso mesmo que pretendemos ou se não será o momento de assumir outro destino. Não se trata de derrubar os juros a canetadas ou de trazer de volta o câmbio fixo.

Se for para garantir o fortalecimento da indústria, então é preciso dar-lhe condições de competitividade por meio da derrubada do custo Brasil e do ajuste sólido das contas públicas. Isso significa reduzir a carga tributária, investir pesadamente em infra-estrutura e tecnologia, resolver a encrenca previdenciária e melhorar substancialmente a qualidade da educação da população.

Definitivamente, apenas o navegador que sabe para onde quer ir é que está em condições de navegar até com vento contrário. É questão de ajustar as velas.

Arquivo do blog