Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 11, 2007

Aloprados e perplexos

Na luta de facções do PT, timidez e despautérios se alternam, e predomina a acomodação diante da crise ética do partido

REFUNDAÇÃO do partido? Já não se fala mais nisso nos círculos petistas. O tema, lançado por setores minoritários do PT como recurso "in extremis" no auge da crise do mensalão, ficou fora das discussões que ocuparam o diretório nacional da sigla, reunido em Salvador na data que marcou os 27 anos de sua criação.
Corrupção? Alguém falou em corrupção? Sim: noticia-se que os signatários de um documento intitulado "Manifesto ao Partido", entre eles o ministro Tarso Genro, haviam feito referência ao processo de "corrupção ética e programática" que acomete a legenda. Mas a fórmula era ousada demais; retiraram-na do texto.
De fato, não seria conveniente se determinados setores do partido, ainda que bastante inconformados com sua falência moral, adotassem uma linguagem tão próxima da utilizada pela "imprensa oposicionista" .
Uma das raras unanimidades a percorrer as diversas tendências que se digladiaram em Salvador, aliás, diz respeito aos meios de comunicação. Caberia "democratizá-los", ou, para citar outra fórmula presente nas discussões, promover uma "radicalização da liberdade de imprensa".
De Tarso Genro a Ricardo Berzoini, dos pragmáticos aos radicais, dos perplexos aos aloprados, o diagnóstico não difere. Se o noticiário revelou tramóias de que "ninguém sabia" -para repetir o mantra utilizado por todos-, a lógica militante conclui que o foco da crise está no noticiário: que este seja, portanto, "democratizado" radicalmente.
Quanto a "refundar" o PT -fosse qual fosse o significado da expressão-, a iniciativa, ao que tudo indica, foi considerada excessivamente... radical. Até mesmo como expressão retórica.
Audácia e imaginação política faltaram aos petistas nesse ponto, mas não deixam de cintilar em alguns balões de ensaio que integram as propostas em discussão. O documento "Um novo rumo para o PT", assinado por deputados ligados à ex-prefeita Marta Suplicy, advoga a calamitosa idéia de que o presidente da República possa convocar plebiscitos sem autorização do Congresso, para decidir sobre "questões de grande alcance nacional".
Seria a anistia ao ex-deputado José Dirceu uma dessas questões? O assunto, como se sabe, divide os próprios petistas, e mais do que o irrelevante dilema sobre silenciar ou não as críticas à política monetária do governo, o que esteve em jogo em Salvador foi uma simples luta entre facções. Quanto da máquina partidária ficará ainda sob controle do grupo ligado a José Dirceu? Quanto será repartido entre Tarso Genro e Marta Suplicy?
Tudo "virou briga de máquina, de levantar crachá": quem assim descreve o processo decisório nas reuniões do PT, em entrevista à Folha na última sexta-feira, é uma das estrelas do partido, o governador Jaques Wagner. Considera esgotado o modelo que organiza o PT em tendências diversas. Talvez tenha razão: os tempos da divergência doutrinária, assim como do purismo ético, passaram para um partido que se avilta no poder.

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