Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 03, 2007

Afundando Celso Ming



A cotação do dólar deslizou ontem para abaixo dos R$ 2,09. Só conseguiu recuperar-se e fechar a R$ 2,1050 graças às compras maciças do Banco Central.

Em janeiro, as reservas cresceram US$ 5,2 bilhões. Na semana passada, em apenas dois dias úteis (quarta e quinta-feira), saltaram US$ 1 bilhão, para US$ 91,6 bilhões.

Para pesadelo dos exportadores, não há indícios de reversão de tendência. Em oposição ao que vêm cantando alguns analistas, o déficit comercial (diferença entre exportações e importações), principal porta de entrada de dólares, não está diminuindo. Ao contrário, tem tudo para ampliar-se neste ano, graças ao aumento do faturamento com exportações, desta vez refletido pelo forte aumento dos preços das commodities agrícolas, que têm peso alto nas exportações.

O prêmio de risco pago no exterior aos detentores de títulos brasileiros também está afundando e sua trajetória de baixa concorre para derrubada das cotações do dólar no câmbio interno. (Prêmio de risco reflete o nível de confiança externa na qualidade de um título de dívida. É o tanto da remuneração que o investidor exige para ficar com um título. É medido em número de pontos. Cada 100 pontos equivale a um ponto porcentual. Se o prêmio de risco Brasil está a 181 pontos, como fechou ontem, isso significa que o investidor está exigindo uma remuneração 1,81 pontos porcentuais ao ano acima do que estão pagando os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, a referência do mercado. Ontem, o T-Note de 10 anos pagava juros de 4,83% ao ano. Quanto menor o prêmio de risco de um título, maior é a credibilidade que inspira e maior o interesse por ele.)

É verdade que a melhora das condições da economia brasileira ajuda a derrubar o prêmio de risco Brasil. Mas, no momento, o fator mais importante nessa queda é a maior confiança dos investidores internacionais no desempenho da economia americana. É o que os leva a sair da toca e a arriscar mais na aplicação em títulos mais rentáveis (embora menos seguros) de países emergentes, como os do Brasil.

A tendência é de afrouxamento gradativo dos juros básicos americanos definidos pelo Fed, o banco central. Isto é, deverá haver mais dinheiro para engrossar a procura de títulos emergentes e, assim, continuar a derrubar o prêmio de risco Brasil.

Muita gente ainda se aferra à idéia de que os capitais afluem em cataratas Brasil adentro e derrubam o câmbio. Engano. Os capitais que entram com as exportações ou investimentos (e não como aplicações de curto prazo) têm deixado de sair como saíam antes. Preferem permanecer por aqui e seguir aproveitando os juros mais generosos pagos no mercado interno.

Esta é a principal razão porque não fazem sentido propostas de controle sobre a entrada e a saída de capitais financeiros especulativos que estariam provocando avalanches de moeda estrangeira no câmbio interno.

São inúmeros aqueles que reclamam de que a política cambial está errada. Mas ninguém apareceu com uma única idéia salvadora. Há quem peça que o Banco Central seja ainda mais agressivo nas compras, sem levar em conta que a percepção externa de melhora da economia crescerá à medida que as reservas se avolumarem com as compras de moeda estrangeira.

Dizer que o Brasil deve fazer como a China, que mantém a moeda nacional artificialmente desvalorizada, é pedir desempenho chinês sem pagar o preço de ser chinês: salário baixo, investimento de 40% do PIB, governo autoritário, ausência de sistema previdenciário e por aí vai.

Quanto mais barato for o dólar mais fácil será derrubar a inflação, porque os produtos importados, mais baratos em reais, ajudarão a segurar os preços. E essa continua sendo a principal razão técnica para que os juros sigam caindo, até mais rapidamente do que vêm determinando os dirigentes do Copom.

Preparem-se para reservas a US$ 100 bilhões - e para suas conseqüências -, possivelmente ainda em março. E para um dólar mergulhando em direção aos R$ 2,00, como martim-pescador em direção a uma manjuba.

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