Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 14, 2006

Se não agora, quando, PSDB?

Reinaldo Azevedo

A petralhada se irrita, faz blague. Mas FHC continua a ser o maître à penser da política brasileira. E, quando o PSDB bate no poste, quase sempre é porque resolve ignorar o que ele diz. O ex-presidente se encontrou nesta segunda com membros do diretório paulista do partido e lançou a idéia: que o PSDB passe a fazer prévias — e isso pode ser muito diferente de uma pré-convenção — para definir seu candidato à Presidência da República. Mais: conclamou os tucanos a ter uma agenda própria para o Brasil, em vez de se colocar como meros caudatários do petismo. Afirmou ainda que é preciso que a legenda aprenda a falar para fora, com a sociedade — numa interlocução mais ampla do que aquela feita apenas entre militantes. Estimulou o partido a “ter uma posição em tudo”.

Isso o PSDB não soube fazer. Não soube nem mesmo defender as privatizações havidas, mostrar as suas vantagens para o Brasil. E por quê? Porque falta debate interno. É claro que não haverá outra legenda com o viés militante do PT. Isso é típico dos herdeiros da esquerda autoritária. Mas é preciso ganhar a sociedade para certas teses. Nesse sentido, um partido que faça eleições primárias, que busque despertar a sociedade para a sua agenda, é fundamental. Mas reitero: primárias, no modelo americano, são coisa distinta de uma pré-convenção. Se é para inovar, que seja para valer.

FHC também negou que o governador eleito de São Paulo, José Serra, esteja pensando em fundar um novo partido. “Ele falou outra coisa”. Que coisa? Por que não — e já disse que evito o termo porque Tarso Genro se encarregou de desgastá-lo — uma “refundação” do próprio PSDB, de que as propostas de FHC possam ser providências mais do que necessárias? O ex-presidente alertou ainda para o risco de “um ficar atirando contra o outro”, no que foi entendido como uma referência à eventual disputa entre Serra e Aécio Neves, governador reeleito de Minas, para disputar a sucessão de Lula em 2010.

Guerra cultural
Sempre me irritou e me irrita a timidez tucana (e pefelista também) para fazer o que chamo “guerra cultural”, para fazer o debate de valores, para — atenção para a palavra — ter a coragem de dividir a sociedade. A máxima de que política só “reúne” é besteira. Nessas horas, o exemplo concreto é o das cotas raciais na universidade. Será mesmo que a maioria dos brasileiros é favorável? Será tão favorável e informada a respeito como era à época do plebiscito da proibição da venda de armas legais, por exemplo? Por que não partir para o debate? Segundo o ex-presidente, o partido não tem de fazer como o PT quando na oposição e “votar contra o país”. Mas precisa saber dizer "não". Mais: cobrou a contratação de assessoria especializada para dar competência técnica aos tucanos na vigilância do governo.

O PT acaba sempre falando sozinho sobre questões de comportamento, costumes e políticas sociais. Na campanha eleitoral, vimos que o partido ditou até a pauta na ordem econômica. A mentira lançada sobre as privatizações “pegou”. E onde estava o PSDB com coragem de assumir a sua própria história? Não havia.

O que sei é que é, sim, necessário um novo partido:
- um partido que tenha a coragem de comprar a briga em favor da imprensa livre;
- um partido que tenha a coragem de distinguir a política social da demagogia;
- um partido que privilegie mais a sociedade do que o Estado;
- um partido que defenda, com efeito, a livre iniciativa e a produção;
- um partido que reconheça que, arrancando menos impostos da sociedade, ela produz mais;
- um partido que não tenha medo de defender privatizações passadas e futuras;
- um partido que dê prosseguimento à despatrimonialização do Estado;
- um partido que saiba distinguir políticas de crescimento de política assistencialista;
- um partido que não reduza a economia de mercado à sua dimensão apenas financeira;
- um partido que não tenha vergonha de reconhecer que não existe política pública decente se não se preserva a única instância que interessa: o indivíduo.

Esse partido pode até se chamar PSDB. O que sei é que é preciso, de fato, ter uma nova agenda. E, para começar, proponho justamente que os tucanos — e pefelistas — se coloquem na trincheira em favor da liberdade de imprensa, que vem sendo bombardeada. Uma das formas do ataque é usar dinheiro público para comprar opiniões. E as oposições ficam vendo a banda passar. O discurso de FHC está correto. Vamos ver o que os tucanos fazem daquilo que ouviram.

Se não agora, quando, PSDB?

Arquivo do blog