Na antevéspera do Dia da Consciência Negra, o IBGE divulga dados de renda e trabalho discriminando os negros e pardos dos brancos. Os técnicos do instituto acharam o que foram procurar: nas estatísticas, é muito pior ser negro/pardo e pobre no Brasil do que ser branco e pobre. Há uma reportagem no Estadão On Line sobre o assunto. Limita-se a reproduzir o que informa o IBGE. Vale comentá-la. Vamos constatar um erro muito freqüente no Brasil e que alimenta toda sorte de equívoco: a correlação costuma ser entendida como causa. A divulgação desses números, nessa data, obedece mais a um viés militante do que técnico. A disposição de dividir o Brasil, de matar a nação brasileira, é real. E eles estão determinados.
Antes disso, algumas observações. Admitindo-se a possibilidade — porque é o que interessa debater — de que, na origem das "diferenças", está o preconceito racial, impõe-se como única forma possível de resolver o problema um trabalho que é de natureza educativa, cultural, social, que vem a ser exatamente a contramão das políticas afirmativas que estão em curso. Como é que se obriga, por hipótese, um empresário a remunerar igualmente brancos e pretos/pardos? Além de se imporem as cotas também nas empresas privadas, haverá um comitê para gerenciar a folha de pagamentos? É assim que haveremos de promover a “igualdade”? Mas vamos ao texto do Estadão On Line. Ele não estará sendo contestado aqui, reitero. Apenas serve de guia do que informa o IBGE. A reportagem segue em azul, com os meus comentários em vermelho.
Os pretos e pardos apresentam piores condições de trabalho do que os brancos nas seis principais regiões metropolitanas do País. Pesquisa divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que eles recebiam em média R$ 660,45 em setembro, o que equivalia a 51,1% do rendimento dos brancos (R$ 1.292,19). Tomando por base o rendimento das famílias, essa disparidade continua: a renda domiciliar per capita em domicílios cujos principais responsáveis eram pretos ou pardos (R$ 417,23) eram menos da metade daqueles domicílios onde os principais responsáveis eram brancos (R$ 950,46) em setembro.
Pois é. Seis regiões metropolitanas! Sabem quais são? São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Rio e Recife. Negros e pardos na grande Salvador, por exemplo, compõem 86,6% da população; devem ser maioria também na grande Recife. Em São Paulo, são 33%. Ainda que se tenha feito a devida ponderação, os números que servem à reflexão não são estes. Se é para dividir os brasileiros em categorias raciais (ou por cor de pele), é preciso analisar cada região individualmente. A alta concentração de negros em regiões que pagam baixos salários distorce a realidade. Um negro nordestino tende a ganhar menos do que um negro paulista pela simples razão de que São Paulo paga salários maiores do que o Nordeste. O que se faz aí produzir obscurantismo: a desigualdade regional vira desigualdade racial.
Da forma como se faz esse levantamento, parece que um branco pobre da periferia de São Paulo vive como um branco pobre da periferia do Recife. E isso é mentira. Ou se supõe que um branco pobre do interior do Rio Grande do Sul se iguala a seu congênere do sertão baiano. Se queremos avaliar o salário médio do trabalhador urbano brasileiro, as seis principais regiões metropolitanas do país são uma amostra confiável. Confiável para ganho médio, bem entendido. Nesses casos, vale sempre a piada: quem está com a cabeça no forno e os pés numa barra de gelo está com boa temperatura média... Se queremos avaliar as desigualdades raciais e seu efeito no rendimento, ela não serve para nada porque não é representativa do Brasil.
Antes disso, algumas observações. Admitindo-se a possibilidade — porque é o que interessa debater — de que, na origem das "diferenças", está o preconceito racial, impõe-se como única forma possível de resolver o problema um trabalho que é de natureza educativa, cultural, social, que vem a ser exatamente a contramão das políticas afirmativas que estão em curso. Como é que se obriga, por hipótese, um empresário a remunerar igualmente brancos e pretos/pardos? Além de se imporem as cotas também nas empresas privadas, haverá um comitê para gerenciar a folha de pagamentos? É assim que haveremos de promover a “igualdade”? Mas vamos ao texto do Estadão On Line. Ele não estará sendo contestado aqui, reitero. Apenas serve de guia do que informa o IBGE. A reportagem segue em azul, com os meus comentários em vermelho.
Os pretos e pardos apresentam piores condições de trabalho do que os brancos nas seis principais regiões metropolitanas do País. Pesquisa divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que eles recebiam em média R$ 660,45 em setembro, o que equivalia a 51,1% do rendimento dos brancos (R$ 1.292,19). Tomando por base o rendimento das famílias, essa disparidade continua: a renda domiciliar per capita em domicílios cujos principais responsáveis eram pretos ou pardos (R$ 417,23) eram menos da metade daqueles domicílios onde os principais responsáveis eram brancos (R$ 950,46) em setembro.
Pois é. Seis regiões metropolitanas! Sabem quais são? São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Rio e Recife. Negros e pardos na grande Salvador, por exemplo, compõem 86,6% da população; devem ser maioria também na grande Recife. Em São Paulo, são 33%. Ainda que se tenha feito a devida ponderação, os números que servem à reflexão não são estes. Se é para dividir os brasileiros em categorias raciais (ou por cor de pele), é preciso analisar cada região individualmente. A alta concentração de negros em regiões que pagam baixos salários distorce a realidade. Um negro nordestino tende a ganhar menos do que um negro paulista pela simples razão de que São Paulo paga salários maiores do que o Nordeste. O que se faz aí produzir obscurantismo: a desigualdade regional vira desigualdade racial.
Da forma como se faz esse levantamento, parece que um branco pobre da periferia de São Paulo vive como um branco pobre da periferia do Recife. E isso é mentira. Ou se supõe que um branco pobre do interior do Rio Grande do Sul se iguala a seu congênere do sertão baiano. Se queremos avaliar o salário médio do trabalhador urbano brasileiro, as seis principais regiões metropolitanas do país são uma amostra confiável. Confiável para ganho médio, bem entendido. Nesses casos, vale sempre a piada: quem está com a cabeça no forno e os pés numa barra de gelo está com boa temperatura média... Se queremos avaliar as desigualdades raciais e seu efeito no rendimento, ela não serve para nada porque não é representativa do Brasil.
A pesquisa mostra ainda que a população em idade ativa preta e parda, com média de 7,1 anos de estudo, era menos escolarizada que a população branca, que tinha em média 8,7 anos de estudo. Além disso, considerando a posição na ocupação, a categoria de trabalhadores domésticos foi a que apresentou maior participação de pretos e pardos (57,8%), seguida da construção (55,4%).
E, nesse caso, o que fica evidenciado é que a escolaridade, então, faz a diferença, e não a cor da pele. Garantir a universalização do ensino médio, parece, é o desafio. Quando à porcentagem de trabalhadores domésticos, nada a estranhar. No Brasil 52% são brancos, 41,7% são pardos e 6% são negros: estas duas últimas categorias, juntas, formam quase 48% da população brasileira. Como se avaliam regiões de alta concentração de negros, os números fazem sentido. Mas é claro que há um quê de militância capciosa em tudo isso. Trabalho doméstico e construção são usados como exemplos de trabalho ruim. Afinal, entramos nisso para provar a discriminação, certo?
O IBGE apontou também que, do total de pessoas desempregadas nessas regiões em setembro, 50,8% eram pretos ou pardos. O porcentual é bem superior à fatia de pretos ou pardos (42,8%) na chamada População em Idade Ativa (10 anos ou mais de idade, que somava um total de 39,8 milhões de pessoas nas seis regiões em setembro).
Já disse que as regiões não são representativas do Brasil. Vejam só. Pretos e pardos são apenas 42,8% nessas regiões e 48% no resto do Brasil? Como se distinguem, nesse caso, o desemprego da informalidade da mão-de-obra? Desemprego, aí, quer dizer “sem renda”? A informalidade em Recife, Salvador e Rio, com mais negros do que São Paulo, é muito maior. Eles entraram como “desempregados”? E aquela porcentagem de negros/pardos brasileiros não representados nesse corte? Vivem onde e como?
Segundo o documento de divulgação do IBGE, a desigualdade em termos de inserção no mercado de trabalho dos pretos ou pardos também pôde ser observada na taxa de desemprego, que para essa parcela da população era de 11,8% em setembro, acima da taxa de desemprego para os brancos, que era de 8,6%.
Valem as mesmas objeções feitas acima, rigorosamente. A amostra voltou a ser comprometida pela desigualdade regional.
Os dados foram produzidos pelos técnicos do IBGE a partir da Pesquisa Mensal de Emprego, que investiga mensalmente o mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do País.
E fica, finalmente, provado que o viés único é militante. Uma pesquisa mensal de emprego é, no máximo, um indicador. Não serve para fazer um retrato da questão racial brasileira.
Mas quem se importa? Há um decreto militante: o Brasil é racista. E, como é racista no mérito (decidiram “eles”), tem de sê-lo também na prática. É preciso justificar as políticas de cotas e a permanente mobilização das minorias. Logo mais, vem a discriminação das mulheres; depois, a dos evangélicos; em seguida, a dos homossexuais; na seqüência, a da mulher, negra, evangélica e homossexual. E sic transit. Estamos determinados a provar que o único tipinho insuportável no Brasil e mesmo o branco, macho, heterossexual e católico. Eis o inimigo a ser combatido.
Há um só caminho para o Brasil avançar: crescimento econômico, com políticas eficientes — e UNIVERSAIS — de inserção social, com ênfase especial na saúde e na educação. Mas não adianta. O esquerdismo bocó dá as mãos às minorias militantes e, curiosamente, se juntam com “especialistas” que se querem ultraliberais em defesa de políticas sociais que chamam “focalizadas”. O resultado, como costumo dizer, é o cruzamento da vaca com o jumento: a cria nem dá leite nem puxa carroça.
E, nesse caso, o que fica evidenciado é que a escolaridade, então, faz a diferença, e não a cor da pele. Garantir a universalização do ensino médio, parece, é o desafio. Quando à porcentagem de trabalhadores domésticos, nada a estranhar. No Brasil 52% são brancos, 41,7% são pardos e 6% são negros: estas duas últimas categorias, juntas, formam quase 48% da população brasileira. Como se avaliam regiões de alta concentração de negros, os números fazem sentido. Mas é claro que há um quê de militância capciosa em tudo isso. Trabalho doméstico e construção são usados como exemplos de trabalho ruim. Afinal, entramos nisso para provar a discriminação, certo?
O IBGE apontou também que, do total de pessoas desempregadas nessas regiões em setembro, 50,8% eram pretos ou pardos. O porcentual é bem superior à fatia de pretos ou pardos (42,8%) na chamada População em Idade Ativa (10 anos ou mais de idade, que somava um total de 39,8 milhões de pessoas nas seis regiões em setembro).
Já disse que as regiões não são representativas do Brasil. Vejam só. Pretos e pardos são apenas 42,8% nessas regiões e 48% no resto do Brasil? Como se distinguem, nesse caso, o desemprego da informalidade da mão-de-obra? Desemprego, aí, quer dizer “sem renda”? A informalidade em Recife, Salvador e Rio, com mais negros do que São Paulo, é muito maior. Eles entraram como “desempregados”? E aquela porcentagem de negros/pardos brasileiros não representados nesse corte? Vivem onde e como?
Segundo o documento de divulgação do IBGE, a desigualdade em termos de inserção no mercado de trabalho dos pretos ou pardos também pôde ser observada na taxa de desemprego, que para essa parcela da população era de 11,8% em setembro, acima da taxa de desemprego para os brancos, que era de 8,6%.
Valem as mesmas objeções feitas acima, rigorosamente. A amostra voltou a ser comprometida pela desigualdade regional.
Os dados foram produzidos pelos técnicos do IBGE a partir da Pesquisa Mensal de Emprego, que investiga mensalmente o mercado de trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do País.
E fica, finalmente, provado que o viés único é militante. Uma pesquisa mensal de emprego é, no máximo, um indicador. Não serve para fazer um retrato da questão racial brasileira.
Mas quem se importa? Há um decreto militante: o Brasil é racista. E, como é racista no mérito (decidiram “eles”), tem de sê-lo também na prática. É preciso justificar as políticas de cotas e a permanente mobilização das minorias. Logo mais, vem a discriminação das mulheres; depois, a dos evangélicos; em seguida, a dos homossexuais; na seqüência, a da mulher, negra, evangélica e homossexual. E sic transit. Estamos determinados a provar que o único tipinho insuportável no Brasil e mesmo o branco, macho, heterossexual e católico. Eis o inimigo a ser combatido.
Há um só caminho para o Brasil avançar: crescimento econômico, com políticas eficientes — e UNIVERSAIS — de inserção social, com ênfase especial na saúde e na educação. Mas não adianta. O esquerdismo bocó dá as mãos às minorias militantes e, curiosamente, se juntam com “especialistas” que se querem ultraliberais em defesa de políticas sociais que chamam “focalizadas”. O resultado, como costumo dizer, é o cruzamento da vaca com o jumento: a cria nem dá leite nem puxa carroça.
Assim morre uma nação.