UM MERGULHO na pior crise econômica da história americana inspirou a teoria de Milton Friedman, o Nobel de 1976 que morreu anteontem.
"Uma História Monetária dos EUA, 1867-1960", escrito com Anna J. Schwartz e publicado em 1963, é um clássico. Para os autores, a crise de 1929 tornou-se tão profunda porque o Fed -o banco central- errou ao drenar a oferta de moeda em meio à débâcle, ajudando a aumentar o desemprego, a deflação e a recessão.
Dessa análise emergiu sua interpretação sobre a moeda e a política monetária. A moeda seria neutra (mero meio de troca) no longo prazo, mas não no curto prazo. Para Friedman e Schwartz, o sistema econômico é inerentemente estável, mas políticas equivocadas podem produzir catástrofes aqui e agora.
Deduziram, então, a famosa regra da política monetária: uma expansão estável da base monetária (quantidade de dinheiro em circulação), ano após ano, sustentaria o crescimento do PIB.
A ascensão do pensamento de Friedman coincide com os estertores dos "anos dourados" do capitalismo mundial, durante a "estagflação" dos anos 1970.
Na mesma época, suas idéias foram o substrato teórico das primeiras tentativas de reformas ultraliberais na América Latina. Os experimentos resultaram em profundas crises, com desvalorização das moedas e estatização dos bancos. O ideário voltou na década seguinte, sob nova roupagem. A partir de 1987, a abertura comercial e financeira e a privatização entraram na agenda de todos os países da região. Infelizmente, os resultados dessas reformas, à exceção do caso chileno, tampouco foram auspiciosos.
Mas o legado de Milton Friedman sobrevive ao tempo e às experiências malsucedidas de ajuste. Se as relações econômicas mundiais não se tornaram tão liberais quanto o professor de Chicago propugnava, elas são, hoje, mais liberais do que nunca.
Entrevista:O Estado inteligente
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