Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 17, 2006

Eliane Cantanhede - "Imediato mergulho até o solo"



Folha de S. Paulo
17/11/2006

Apesar de preliminar, o relatório da comissão que investiga o choque do Legacy com o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas, já indica as prováveis causas. Basta olhar os "pontos focais" a serem analisados a partir de agora.
São eles o funcionamento do transponder e dos rádios do Legacy, o cotejamento de normas e procedimentos no Brasil e no mundo, o sistema de comunicação e de vigilância do tráfego aéreo e... "o conhecimento e preparo previstos aos pilotos [do Legacy] para a realização do vôo no Brasil".
Ou seja: só o Boeing, a Gol e os seus pilotos já estão praticamente inocentados no maior acidente da história da aviação brasileira. No mais, há a suposição de uma salada de culpas humanas, materiais e operacionais, além de um "buraco negro" de deixar qualquer um de cabelo em pé -principalmente quem viaja pela Amazônia.
Apesar de praticamente repetir o que já se sabia, o relatório mostra uma angustiante tentativa de contato entre o Cindacta-1 (centro de controle de Brasília) e o Legacy. Foram 27 tentativas, a última delas a um segundo do choque.
O tempero dessa salada pode ser a falta de compreensão entre os pilotos americanos e o controlador brasileiro de São José dos Campos, de onde o Legacy voou até atingir a asa do Boeing a 37 mil pés sobre a selva. E uma pitada de sal: há ou não divergências entre normas e procedimentos do Brasil e dos EUA?
Investigações de acidentes, em todo o mundo, não têm o objetivo de descobrir "culpados" e de puni-los, mas o de identificar falhas que possam levar a novas colisões, novas quedas, novas mortes. E, realmente, isso é desesperador. Elas são tantas, tão disseminadas.
O coronel Rufino Antônio da Silva Ferreira, que preside a comissão de investigação, definiu a queda como "um imediato mergulho até o solo". Mas os vôos já eram um mergulho no escuro. E para a morte.

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