Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 19, 2006

MERVAL PEREIRA -PFL como alternativa

Ser considerado oposição de direita é bom ou ruim para o PFL? Para o prefeito Cesar Maia, do Rio, “o discurso conservador, com base em lei, ordem, família, costumes, é popular. O discurso liberal não é. Com referências certas, não será a questão ideológica que vai pesar”. Segundo ele, o eleitor, numa linha que vai da extrema direita à extrema esquerda, localiza o PSDB e o PFL na mesma posição. “E isso preocupa o Serra e explica seus movimentos atuais”. O papel no PFL de Afif Domingos, que teve uma votação expressiva para o Senado, dependerá, segundo Maia, de avaliações sobre a importância de sua principal bandeira, a redução de impostos, para a caracterização do partido em São Paulo.

O fato de Afif Domingos vir a ser secretário do governador José Serra vai servir para pesar quanto o tema impostos, e quanto a dobradinha com o governador vitorioso, pesaram na eleição. “Há que testar em pesquisas pós-eleitorais.

E Afif avaliar seus caminhos alternativos, coisa que fará progressivamente”, analisa Cesar Maia.

Sobre a refundação do PFL, Maia diz que o primeiro passo foi dado com a utilização da mesma metodologia do PP da Espanha nestes últimos anos. Essa parceria foi firmada durante a reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC), realizada no Rio no ano passado. A IDC, presidida pelo ex-presidente de governo espanhol José María Aznar, se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e sociaisdemocratas no mundo.

O que o PFL sugeria naquele instante é que PSDB e PT têm a mesma formação social-democrata, e por isso seus governos não conseguem levar o país ao desenvolvimento pleno. A política econômica, que teve continuidade no governo Lula, apenas com mais deficiência técnica, centrou todas as medidas apenas para manter a estabilidade da moeda, critica o PFL.

Para o senador Jorge Bornhausen, presidente do partido, essa receita está errada, e o problema está no tamanho do Estado. “Nós não defendemos nem o Estado atual, que é grande demais, tem gorduras, nem o Estado mínimo, que considera o mercado como comandante do processo de uma sociedade. Nós defendemos o Estado eficiente”, já dizia ele na ocasião, carimbando o que seria o tom de uma eventual campanha eleitoral do PFL, que não prosperou, e que será a marca da atuação do partido no segundo governo Lula.

O receituário do PFL foi dado durante aquele encontro da IDC: uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho da administração, em todas as instâncias de poder, e fazer, gradualmente, uma redução de impostos, para permitir que a sociedade produtiva gere os empregos. Estaria na hora de tentar outra experiência, que seria a candidatura à Presidência de Cesar Maia, que acabou não vingando.

Na ocasião, tanto o prefeito do Rio quanto o senador Jorge Bornhausen se preocuparam em esclarecer que a Internacional Democrática de Centro não é uma união de partidos de direita. Representaria “um movimento de centro reformista e humanista”, segundo Bornhausen, que procurou chamar a atenção para o fato de que Aznar, do PP espanhol, “executou as políticas liberais no governo, e obteve grande sucesso naquilo que nós entendemos que é a grande luta do mundo moderno, a geração de empregos”.

A experiência de oito anos de governo do PP na Espanha seria um exemplo de como conseguir um desenvolvimento com políticas econômicas liberais. Essas mesmas políticas estariam representadas também por Jacques Chirac, na França; Durão Barroso, do PSD em Portugal, hoje presidente da Comunidade Européia, e principalmente George W. Bush, nos Estados Unidos, exemplo que hoje deve estar sendo evitado pela cúpula do PFL.

O próximo passo decisivo, depois da renovação das lideranças no Congresso com a ascensão do deputado Rodrigo Maia como líder na Câmara, será o “Congresso de Refundação”. Esse passo será tão mais importante quanto mais rapidamente for dado, avalia o prefeito do Rio, para quem “o poder está no centro”.

Ele também acha que, com a desverticalização partidária, a tendência é o PFL se separar do PSDB em 2010 para lançar candidatura própria.

“Só um quadro de vitória em primeiro turno pode alterar, mas é improvável que isso aconteça. As eleições são cada vez mais personalizadas.

Dependem do personagem e de seus compromissos”.

Cesar, que foi lançado candidato a presidente no início da campanha em 2006, continua sendo a opção mais viável para o PFL para uma eventual disputa em 2010. Provavelmente o PFL, e talvez até mesmo o PMDB, decidirão disputar as próximas eleições presidenciais mesmo para perder. Precisam sair da condição de coadjuvantes de PT e PSDB para ganhar espaço próprio no jogo partidário.

Seu mandato de prefeito termina em 2008, e no ano que vem ele terá a realização dos Jogos Pan-Americanos no Rio como alavanca para uma demonstração de capacidade de organização, ou um fracasso que inviabilizaria futuras pretensões.

Disposição para enfrentar os dois partidos que polarizam a política nacional nos últimos 16 anos ele tem.

Para Cesar Maia, a prática está demonstrando que não há social-democracia no PSDB nem no PT: “Não sei qual a política econômica do PT, como não sei qual é a do PSDB. A política de inclusão social focalizada é classicamente social-liberal”. Para ele, o PT na Presidência se parece muito com o governo João Goulart: “poder para os pelegos, desmotivação para administrar e fogos de artificio para a esquerda”.

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