Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 01, 2006

Lições da Bolívia



EDITORIAL
O Globo
1/11/2006

A Petrobras continuará produzindo óleo e gás natural na Bolívia por mais trinta anos em decorrência do acordo negociado pelo governo de Evo Morales com as companhias petrolíferas lá instaladas. Só o tempo dirá se Morales tomou uma decisão política que contribuirá para melhora da situação econômica e social da Bolívia, ou se os investidores se afastarão progressivamente do país.

Para a Petrobras, as condições do acordo compensam a continuidade da produção, o que provavelmente seria impossível se o governo Evo Morales tivesse mantido a exigência inicial de cobrança de royalties equivalentes a 82% sobre o volume de hidrocarbonetos extraídos em território boliviano. No entanto, seria prematuro afirmar que as companhias petrolíferas vão expandir investimentos em exploração para descoberta e desenvolvimento de novos campos de gás natural ou óleo.

O governo Evo Morales resolveu mudar a regra com o jogo em andamento, tal qual fez na Venezuela seu inspirador político Hugo Chávez. Em face dos elevados preços internacionais dos hidrocarbonetos e dos investimentos já realizados, foi conveniente para as companhias petrolíferas fechar um acordo com a Bolívia a curto prazo, mas a relação passou a ser de desconfiança entre as partes.

A demanda por gás deve saltar de aproximadamente 50 milhões para cerca de 121 milhões de metros cúbicos diários no Brasil até 2011, segundo estimativas da Petrobras, e não se prevê importar nesse período um centímetro cúbico a mais da Bolívia. O Brasil e a própria Petrobras vão procurar outros fornecedores, além de investir fortemente no incremento da produção nacional.

Que proveito vai tirar a Bolívia da estagnação nas exportações do seu gás para o Brasil? Então de fato é duvidoso que o governo Evo Morales tenha obtido alguma vitória política ou econômica em toda essa confusão.

Para o Brasil ficou a lição de que não bastam apenas boas intenções e ideologia no intercâmbio com nossos parceiros comerciais. Nesse sentido, foi negativo que a Petrobras tivesse aberto mão de recorrer a foros internacionais para solucionar novos impasses com a Bolívia.

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