Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, novembro 01, 2006

Grave ameaça


EDITORIAL
O Globo
1/11/2006

Começa a tomar corpo no rescaldo das eleições, enaltecidas pelo que representaram na consolidação da democracia brasileira, o espectro de uma ameaça em sentido oposto, por atingir a liberdade de imprensa e de expressão. Não escapam a uma observação mais atenta movimentos dentro do governo, no PT e aliados contrários aos maiores órgãos de imprensa do país, acusados de um hipotético partidarismo na campanha eleitoral. Mesmo que veículos da mídia impressa, emissoras de TV e rádio tenham aberto amplos espaços para debates, feito uma cobertura jornalística inatacável do ponto de vista do pluralismo, há quem dê um outro balanço do trabalho da grande mídia. Em sites e blogs na internet, por meio de mensagens muitas vezes de identificação suspeita, e em algumas análises sem sustentação em fatos concretos, tenta-se relatar a história de uma conspiração fantasiosa.

Em tudo é perceptível a paixão política e ideológica - irresponsável, por definição. Assim, o noticiário objetivo sobre o dossiê dos Vedoin, em que se envolveram comprovadamente petistas do alto escalão do partido, converteu-se em mentiras deslavadas; colunistas passaram a ser patrulhados e manchetes foram lidas com nuances inauditas. Um indicador preocupante de onde tudo isso pode chegar foi a inaceitável agressão cometida por militantes do PT, alguns com crachás de funcionário público, contra repórteres, à frente do Palácio da Alvorada, na volta do presidente reeleito a Brasília, na segunda-feira. Não pode ser considerada uma agressão espontânea - que na verdade atingiu toda a imprensa e o que ela representa em termos de liberdade democrática.

Esse clima fica ainda mais envenenado com declarações impensadas de quem precisa ter responsabilidade pública. Como o presidente do PT, e coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, que, nessa mesma segunda-feira, aconselhava jornalistas a fazer uma "auto-reflexão" sobre a cobertura da campanha. Ou o ex-ministro Ciro Gomes, um dos que acusam, sem provas, a imprensa de interferir no processo eleitoral.

Com isso, um delegado da Polícia Federal sentiu-se respaldado para pressionar, de forma descabida, repórteres da revista "Veja" intimados a depor no inquérito do vazamento de informações sobre um suposto encontro clandestino, na PF, de envolvidos no caso do dossiê. No governo do PT reproduziu-se uma cena típica da ditadura militar.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já disse que sem a liberdade de imprensa ele não seria o que é. Tem razão. Precisa agora tratar de preservá-la, contendo os seus.

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