Dora Kramer - Conversa fiada |
O Estado de S. Paulo |
18/11/2006 |
PT entrou valente, mas saiu obediente do encontro com o presidente Lula A comissão de petistas - o estressado Marco Aurélio Garcia à frente - que esteve com o presidente Luiz Inácio da Silva na quinta-feira pediu reuniões mensais com Lula. Ele concordou, mas passou a missão ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, por dever de ofício um interlocutor freqüente e acessível aos partidos em geral e ao PT em particular. O primeiro ato oficial do presidente como articulador político e organizador de suas bases partidárias foi, por essas e outras, inconsistente. Levou o PT na conversa, falando o tempo todo sobre suas pretensões de imprimir "ousadia" ao governo, e não deu espaço para a abordagem de nenhum assunto problemático: formação do ministério, presidências e lideranças do governo na Câmara e no Senado. Noves fora, o resultado foi nulo, serviu apenas para o PT coadjuvar a cena de proximidade e tomar ciência de que partido no poder é isso mesmo: deve obediência, silêncio e reverência. Aquele partido vivo, não raro cheio de equívocos sobre os exercícios da política, está reduzido à insignificância reservada aos partidos no poder. Foi assim com o PSDB, na gestão Fernando Henrique, continuará sendo assim com o PT nos próximos quatro anos. A menos que o tenham feito em regime de sigilo absoluto, o presidente e seus correligionários não trataram de nenhum tema relevante ou delicado. Não falaram do futuro, do passado nem do presente. Reuniram-se social e publicitariamente apenas para dizer que se encontraram. O próprio desenho da comissão escolhida para ir a Lula esteve nos conformes da inutilidade: a burocracia do aparelho, dois deputados sem maior expressão e dois titulares de cargos de comando - o presidente Marco Aurélio e o secretário-geral Luiz Dulci - hierarquicamente subordinados a Lula na estrutura do governo. Nenhuma das aflições que assolam o PT poderia ser resolvida nesse fórum. Até a promessa de "mudar a relação" com o partido foi vaga. Lula prometeu "diálogo aberto", mas, pelo visto e ouvido depois da reunião, essa abertura tem limites estreitos e dimensões difusas. Provas foram os relatos ocos sobre a reunião. A líder no Senado, Ideli Salvatti, revelou que Lula talvez tome posse com os ministros atuais. E daí? Pode ser verdade ou não, tanto faz. O presidente do partido, Marco Aurélio, em meio à irritabilidade que vem notabilizando suas atuações públicas, tentou explicar melhor a situação do PT face ao segundo mandato: "O tamanho da participação no governo não é um tamanho que se possa medir com fita métrica, não se pode medir com aritmética vulgar. Mede-se concretamente pela presença de posições políticas essenciais de um determinado partido ou de um conjunto de partidos." Deu para entender o que o PT foi fazer no gabinete presidencial? Pois é. Tarimba Alguns petistas desconfiam de que o repentino interesse da líder do PT no Senado em se fazer porta-voz das reivindicações da bancada para "assegurar espaços" no governo seja fruto de uma tarefa dada a ela pelo próprio Palácio do Planalto, a fim de "segurar" a fome do PMDB e dar ao presidente Lula uma justificativa para não conceder tanto quanto deseja o partido. Esses mesmos petistas, entretanto, ponderam: experientes, os rapazes de Jader Barbalho não são de se impressionar com esse tipo de jogada ensaiada. Catimba A insistência do PMDB em pleitear a presidência da Câmara, sabendo da preferência de Lula pela permanência de Aldo Rebelo e nem um pouco interessado em se confrontar de fato com o presidente, é outro jogo de cena. Primeiro, para não denotar submissão, pois o partido tem a maior bancada e não pode entregar a primazia assim de mão beijada. Segundo, para, ao "abrir mão" ou manter a candidatura só por honra da firma, garantir bons nacos do ministério. Em termos de Congresso, Renan Calheiros ficando na presidência do Senado e o PT não assumindo a da Câmara, para os pemedebistas está de bom tamanho. Dois amores O governador eleito do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, não há dúvida, continua mesmo afinado com o Palácio do Planalto. Tanto que foi dos primeiros, como queria Lula, a negar quórum à reunião de ontem entre governadores do PMDB para discutir apoio ao governo. Digamos que a posição de Cabral seja de fidelidade administrativa. No campo político-eleitoral, assim que for deflagrado o processo de sucessão presidencial, alinha-se a Aécio Neves. E trabalha para levar o PMDB junto. Dois fatores À primeira vista, Aécio e José Serra fazem movimentos distintos quando um se aproxima dos pemedebistas, como faz Aécio, e outro entrelaça corações com o PFL, caso de Serra. À segunda vista, porém, é possível perceber que Aécio e Serra caminham na mesma direção: cada qual garante um aliado na expectativa de que, lá na frente, o escolhido possa contar com o apoio de ambos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, novembro 20, 2006
Dora Kramer - Conversa fiada
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