Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 04, 2006

DORA KRAMER Agora é que são elas

dora.kramer@grupoestado.com.br

Segunda-feira o presidente Luiz Inácio da Silva retoma o trabalho, recomeça o mandato depois de aprovado no plebiscito entre nós denominado de reeleição e a vida volta ao normal. Ou até onde seja possível esperar normalidade do ambiente politicamente envenenado entre governo e oposição.

Ambos já fizeram suas cenas para a platéia: Lula chamou todos ao 'diálogo' e os adversários refugaram em princípio, desconfiando da existência de intenções publicitárias por trás da proposta ao entendimento.

Mas é de se perguntar: entendimento a respeito de que mesmo?

Em seu pronunciamento em rede de rádio e televisão na terça-feira passada, Lula apresentou sua proposta. Uma agenda enxuta e por isso realista, mas, ao mesmo tempo, ambiciosa. São quatro os pontos postos à mesa pelo presidente: reformas política e tributária - e aqui reside a ambição - e aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e do Fundo Nacional de Educação Básica (Fundeb).

Apresentou-se bem, o presidente. Não cedeu à tentação dos gestos ou propostas impactantes na forma e vazias no conteúdo, características do primeiro mandato ( Fome Zero, Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e disse o que, no entendimento do governo, é o mais importante agora.

Mostrar suas intenções, porém, não basta. É preciso que o governo saiba respeitar o papel crítico da oposição, consiga se organizar no Congresso e, no caso da reforma tributária, faça o mais difícil: lidere o processo de modo a arbitrar em ambiente de interesses conflitantes de 27 Estados e mais de 5 mil prefeituras e da própria União.

Não é tarefa que se faça só com discurso. É preciso dedicação, paciência, capacidade de negociação, firmeza e, sobretudo, rumo.

Da parte da oposição não ouvimos ainda qual é a pauta de trabalho, além da legítima e necessária pressão por apuração correta e sem interferências de todas as questões governo-petistas em curso na Justiça e na polícia. Isso é óbvio, entretanto, e de gente que pretende voltar ao poder espera-se bem mais que só cobranças. Se for assim, PSDB e PFL estarão apenas imitando o PT na oposição e isso, como acabamos de ver no dia 29, não é suficiente ao juízo do eleitorado.

Os oposicionistas ficam a dever ainda, não necessariamente a deposição das armas, mas a apresentação das cartas de intenções.

Mal na foto

Eficiente no manejo de simbolismos de identificação popular, Lula não usou seu repertório na crise que deixou milhões de pessoas 7 dias à mercê dos controladores de vôo.

Lula participou de uma única reunião para tratar do assunto, não fez nada além de uma cena de irritação - com direito ao já notório 'soco na mesa' -, foi para a Bahia descansar com a família anunciando o plano de 'sumir' até o fim do feriadão e lá se deixou fotografar esparramado de sunga ao sol.

Racionalmente, é fato que a presença de Lula em Brasília não teria por si só o condão de resolver o problema.

Mas é verdade também que férias presidenciais em momentos de comoção denotam indiferença e distanciamento, pois esteve disposto para ganhar a eleição e, no momento em que a aviação sofria um colapso com efeitos dramáticos sobre a vida da população, o presidente faz o que as pessoas não puderam fazer: toma um avião à hora e ao tempo desejados e vai relaxar na praia.

Tendo manifestado sua preferência dias antes pelos mais pobres, ficou parecendo que o presidente não liga para quem anda de avião. Transporte, aliás, hoje não mais exclusivo de quem tem muito dinheiro.

Alckmin 2008

A cúpula tucana pensa mesmo em fazer de Geraldo Alckmin o candidato à Prefeitura de São Paulo em 2008. O motivo principal é a força eleitoral dele na cidade e o secundário é que o partido não tem outro nome mesmo.

Alckmin esteve com Fernando Henrique Cardoso logo após a eleição, mas não trataram de futuro. O ex-governador disse a FH que, depois da derrota, estava pensando em retomar suas atividades médicas.

O ex-presidente dá todo o apoio, já que é uma questão de sobrevivência. Mas considera que o PSDB, se quiser ter chance, precisa começar a se preparar para a disputa desde agora. Principalmente se a adversária for Marta Suplicy, tida no tucanato como páreo duríssimo.

Tecnicamente

O presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, encomendou à Fundação Getúlio Vargas um estudo para 'racionalizar' os gastos da Casa.

Não será um espanto se dessa 'racionalização' nascer uma forma técnica - e, sobretudo, disfarçada - de conceder aumentos de salários aos deputados. De maneira suave, muito racional, ao molde de facilitar sua digestão por parte da opinião pública.

Encontro

Fernando Henrique almoçou na quarta-feira em São Paulo com o senador Antonio Carlos Magalhães. A pedido deste. Foram só os dois, que fazem o maior segredo da conversa.

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