O Estado de S. Paulo |
1/11/2006 |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva repreendeu, mais uma vez, seus companheiros do PT, que, desde os tempos de José Dirceu na Casa Civil, de vez em quando se arvoram em arautos da política “desenvolvimentista”. Não houve uma era Palocci, como não há uma era Mantega, disse o presidente, contestando o ministro Tarso Genro. A política econômica, insistiu Lula, agora como no tempo de Palocci, é dele, presidente da República. Também os ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, haviam anunciado o fim de uma fase, mas com menos espalhafato. Genro havia sido o mais desastrado, ao declarar terminado um período de “taxas baixas de crescimento e preocupação neurótica com a inflação”. Podem ter errado em suas declarações, mas confirmaram a avaliação de Lula: o PT, mesmo quando não está envolvido em crimes, atrapalha mais do que os adversários. Escaldado, o presidente reeleito conhece bem o risco de uma transição tumultuada. Confirmou a manutenção do ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelo menos até o fim do primeiro mandato. “Eu não tenho pressa, tenho até 1º de janeiro para indicar o novo ministério e Guido é meu ministro da Fazenda até quando eu quiser. Quando eu não quiser, ele não será[ATÉ LÁ]”, assegurou. Mas não se limitou a desmentir o falatório dos ministros e quaisquer rumores sobre mudanças no governo. Reafirmou o compromisso com a orientação fiscal e com a política antiinflacionária. “Não vamos mexer na meta de inflação. A inflação para nós é condição básica para manter o poder aquisitivo do povo pobre deste país”, argumentou. Também essa lição o presidente parece haver aprendido: a reeleição foi facilitada por uma política monetária combatida por muitos de seus ministros mais importantes, incluídos Tarso Genro, Dilma Rousseff e o próprio Mantega. Ele mostrou, enfim, uma clara percepção da expectativa do mercado financeiro e do empresariado, ao atribuir ao ex-ministro da Fazenda boa parte da estabilidade conseguida em seu governo: “Nós estamos colhendo hoje coisas plantadas no tempo do Palocci.” (Pena que não tivesse aproveitado a ocasião para dizer que Henrique Meirelles continuará no Banco Central.) A ministra Dilma Rousseff obedeceu o comando. Num claro recuo, prometeu para os próximos anos a manutenção de um superávit primário de 4,25% do PIB e uma política de corte de gastos. Haverá um esforço muito grande na área fiscal, disse a chefe da Casa Civil numa entrevista. Não muito tempo atrás, ela havia chamado de rudimentar uma proposta de cortes apresentada pelo ministro do Planejamento. O presidente Lula parece haver dito o suficiente para afastar, pelo menos por algum tempo, as dúvidas sobre a política fiscal. Mas não disse o bastante para esclarecer como o governo poderá articular seus vários objetivos - controle da inflação, melhora das contas públicas, maior crescimento econômico, distribuição da renda e redução da pobreza. No primeiro mandato, disse o presidente, não foi possível compatibilizar o crescimento e o combate à inflação. Essa explicação não é apenas discutível. É falsa, porque só revela uma parte da história. Mas coincide com a argumentação de quem defende uma política monetária condicionada a metas de crescimento econômico. Aproxima-se da tese favorável a “um pouco mais de inflação” para um pouco mais de expansão do PIB e do emprego. Uma reconstituição mais ampla da experiência dos últimos quatro anos mostraria o quadro. O Banco Central teria podido trabalhar com juros mais baixos, se o governo houvesse cumprido com maior disposição a pauta de reformas, propondo a alteração do orçamento, cortando gastos com maior disposição e reduzindo a carga tributária. Ocorreu o contrário: os gastos correntes cresceram, o peso dos impostos aumentou e a política orçamentária permaneceu tão irracional quanto antes. O mero envolvimento do governo nessas tarefas teria permitido, quase certamente, um financiamento público mais fácil e uma redução mais veloz da taxa de juros. O novo “companheiro” de Lula, Delfim Netto, definiu ontem em sua coluna no jornal Valor o desafio que Lula tem pela frente: “País onde o PIB cresce 2,4% ao ano e as despesas correntes a 6,0% terá o destino de Plutão: será excluído da geografia.” |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, novembro 01, 2006
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