Os homens de George H. Bush, o pai, cercam agora George W. Bush, o filho, na tentativa de salvar e se engajam numa operação de resgate. O que se tenta salvar já não é o lugar do governo na posteridade mas apenas a ordem estatal no Oriente Médio.
Na Guerra do Golfo de 1991, sob Bush, o pai, os EUA derrotaram as forças iraquianas mas preservaram o regime de Saddam Hussein, que era o principal contraponto regional à influência do Irã. Na Guerra do Iraque, em 2003, os EUA de Bush, o filho, desafiando o realismo político, aboliram a ditadura iraquiana e anunciaram o renascimento democrático do mundo árabe-muçulmano.
Hoje, a falência dessa política só é negada por um punhado de neoconservadores delirantes.
“Os interesses vitais dos Estados Unidos e as nossas mais profundas crenças agora se confundem. A melhor esperança de paz em nosso mundo é a expansão da liberdade em todo o planeta.” Essas palavras, do segundo discurso inaugural de Bush, em janeiro de 2005, não pertencem ao domínio da retórica vazia.
O petróleo representa, obviamente, um elemento estrutural no cálculo político americano no Oriente Médio. Mas Bush não decidiu invadir o Iraque para atender às companhias petrolíferas, que preferiam a persistência na estratégia de contenção de Saddam Hussein. A invasão obedeceu à doutrina de “reforma do mundo” que inspira o pensamento neoconservador.
O Estado iraquiano foi fabricado pelos britânicos, em 1920. Os campos petrolíferos de Kirkuk, no norte curdo, e a saída marítima do porto de Basra, no sul árabe e xiita, estavam separados pelas terras árabes e sunitas da área de Bagdá. Para controlar o petróleo da Mesopotâmia, os britânicos inventaram o Iraque agrupando essas três regiões otomanas.
Quando o país tornouse soberano, os sunitas surgiram como fiadores da unidade e um nacionalismo iraquiano floresceu ao abrigo da ditadura do Partido Baath. Os conservadores do governo de Bush, o pai, reconheciam os riscos de dissolver a cola que unia o Iraque. Mas os neoconservadores só reconheciam os imperativos de sua ideologia.
A idéia de que a “liberdade” deve ser inoculada no mundo árabemuçulmano pelos soldados do Ocidente é um fruto extemporâneo do conceito do “fardo do homem branco” que animou a aventura colonial européia. Na literatura ocidental sobre o mundo árabe, esse conceito desdobrou-se como uma condenação histórica: os muçulmanos, presos a um lastro cultural que não foi varrido pela Reforma e pelo Iluminismo, seriam incapazes de combater sozinhos a tirania.
“A doutrina ocidental do direito de resistir a um mau governo é estranha ao pensamento islâmico”, escreveu Bernard Lewis, o mais célebre dos orientalistas contemporâneos, sem se importar com os movimentos modernistas que diversificaram o “pensamento islâmico”.
Os americanos foram ao Iraque fazer aquilo que, de acordo com esses sábios ocidentais, os árabes não poderiam fazer nas suas próprias sociedades.
O desastre é o preço que a História cobra à soberba intelectual.
As eleições para o Congresso dos EUA assinalaram o esgotamento da iniciativa americana no Iraque. Os democratas vitoriosos exigem um cronograma de retirada das tropas.
O governo aguarda as conclusões do Grupo de Estudo do Iraque, uma comissão bipartidária liderada por James Baker, ex-secretário de Estado de Bush, o pai.
Segundo os indícios disponíveis, a comissão Baker prevê a fragmentação do Iraque em três entidades autônomas e sugerirá uma “retirada para as vizinhanças”.
Isso seria a saída das tropas de ocupação das cidades do Iraque, com o agrupamento de forças em bases no deserto e em países limítrofes, a fim de dissuadir o Irã e a Síria de interferirem diretamente na guerra civil iraquiana.
“Guerras civis são boas para separar populações e estabelecer a pazcivil ” , afirmou Edward Luttwak. O consultor do Pentágono parece não enxergar as conseqüências do fracasso. A fragmentação do Iraque dinamitaria os alicerces da ordem regional. O ministro do Exterior turco alertou os líderes curdos para o “erro histórico” que cometeriam dividindo o Iraque e lembrou-lhes que, ao contrário dos EUA, “a Turquia permanecerá na região eternamente”. A al-Qaeda sonha em instalar um Estado jihadista no “triângulo sunita” iraquiano. O Irã, de olho no Iraque meridional, aposta num “crescente xiita” que se estende até o Líbano.
O fracasso da Doutrina Bush lança sobre o Oriente Médio a sombra da guerra geral. Os EUA sondam a hipótese de abrir negociações com o Irã e a Síria. Israel, por seu lado, prepara-se abertamente para uma guerra contra esses dois países.
Entrevista:O Estado inteligente
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