O Estado de S. Paulo |
17/11/2006 |
Você sabe das cachaças que bebo, mas não sabe dos tombos que levo. Este antigo ditado caipira se aplica àqueles que não param de dizer que, para crescer e criar empregos, o Brasil tem de seguir o modelo chinês. Quem olha com inveja para a China vai logo pensando na qualidade da cachaça deles. É uma economia crescendo 10,5% ao ano; produção industrial a 16,1% ao ano (dado de setembro); uma inflação de apenas 1,5% ao ano; reservas externas de US$ 1 trilhão; exportações anuais que eram de US$ 9,8 bilhões em 1978 e neste ano serão de US$ 944 bilhões; saldo comercial positivo de US$ 150 bilhões; participação na economia mundial superior a 15%, a quarta do mundo; câmbio fixo a 8,11 yuans por dólar; juros a 3% ao ano; ampliação de 1,5% para 20% da população do número de universitários em 30 anos (1975 a 2005). Esses resultados não surgiram no bosque como cogumelos depois de uma noite de chuva. São o resultado de várias estratégias simultâneas de desenvolvimento decididas e implantadas pelo governo central. Essas estratégias prevêem incorporação contínua e crescente de tecnologia, importação maciça de capitais e entrada de 30 milhões a 35 milhões de chineses a cada ano no mercado de trabalho. Brasileiro que olha a China e em seguida compara o que acontece lá com o que acontece aqui não consegue disfarçar um misto de admiração e desânimo. Por aqui, vamos levando a vida do jeito que dá, sem contar com um projeto claro de desenvolvimento. Os juros mais baixos do País (a Selic, definida pelo Copom) são os mais altos do mundo. Mas quem se volta para o custo financeiro na ponta do tomador de empréstimos sente tonturas só de olhar. Juros cobrados no crédito para capital de giro são de 62% ao ano; para desconto de duplicatas, de 54% ao ano; para desconto de cheque, 57% ao ano; para o crédito em conta garantida, 91% ao ano. Se o cliente é pessoa física, as operações com juros do comércio sobem a 107% ao ano; no cartão de crédito, a 226% ao ano; no cheque especial, 151% ao ano; e no empréstimo pessoal feito pelos bancos, a 91% ao ano. (São dados do último informe da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, a Anefac.) A carga tributária vai chegando aos padrões de países escandinavos. Está nos 38% do PIB, mas, a despeito do que vai sendo prometido pelo governo, tende a continuar subindo. Prova disso é que o ministro da Fazenda se nega a reduzir o Imposto de Renda para pessoa física e nem sequer se dispõe a corrigir a tabela progressiva que esfaqueia tanto mais fundo quanto mais alta for a inflação. A dívida pública passou de R$ 1 trilhão e não consegue cair dos 51% do PIB. O índice interno de poupança é baixo, inferior a 19% do PIB. Isso significa que o País consome demais e separa uma fatia muito pequena do que produz para o investimento. Com baixo investimento, a economia segue estagnada. Por que não adotar a receita deles? É claro que o governo brasileiro poderia ser mais determinado e por em marcha políticas que deram certo na China. Mas não há comparação possível entre um modelo e outro. Nesse ponto é preciso falar dos tombos levados pelo consumidor da boa cachaça. A China só está onde está porque tem uma reserva inesgotável de mão-de-obra barata. Os salários raramente ultrapassam os US$ 70 mensais. O chinês quase não tem direito a férias nem a seguro-desemprego. Fundo de Garantia e 13º salário, nem pensar. Apesar disso, poupa nada menos que 40% do que ganha, porque tem de garantir a aposentadoria futura com sacrifício próprio. Lá não existe sistema previdenciário oficial. O governo decide tudo, de forma centralizada e autoritária. Se a ordem é desocupar a casa onde mora porque no terreno vai ser construído um viaduto, não há o que fazer senão juntar os trapos e seguir para onde as autoridades indicarem. Se tiver sorte, quem sabe poderá descolar, a título de compensação, um aparelho novo de TV ou um telefone celular. E quem quiser seguir ensino superior tem de pagar por isso, mais ou menos o que o brasileiro paga por um curso em universidade privada. A população é controlada com mão-de-ferro e os distúrbios, duramente reprimidos. Crimes de tráfico de drogas, enriquecimento ilícito e sonegação de impostos são punidos com tiro na nuca. Depois, as autoridades cobram da família o preço da bala usada na execução. Enfim, cada êxito econômico com sua dureza. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, novembro 17, 2006
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