O Estado de S. Paulo |
3/11/2006 |
País nenhum vive sem demônios. Quando não existem, é preciso inventá-los para que possam ser publicamente exorcizados, para reconforto coletivo. A acreditar no atual jogo político, a área econômica escolhida para ser demonizada e punida é a política de juros. A idéia por trás desse movimento é a de que, uma vez derrubados os juros, os problemas ficarão definitivamente resolvidos: o País crescerá, haverá emprego para todos, o padrão de vida melhorará, a classe operária estará perto do Paraíso. Na entrevista publicada quarta-feira pelo jornal O Estado, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez uma observação que pode ter passado despercebida. É preciso dar-lhe importância, até para refutá-la, se fosse o caso. Disse ele que "o consumo está crescendo mais do que a produção". E acrescentou que "parte da demanda está sendo coberta com mais importações, que estão dando tempo para que o País se equipe e invista para responder a esse aumento do consumo". Há vários subentendidos nessa afirmação. O primeiro não é propriamente a revelação, mas a insistência em que já há descompasso entre demanda (mais alta) e oferta (mais baixa). O número com que vem trabalhando o Banco Central está na última Ata do Copom. Aponta um avanço de 6,3% no consumo varejista em agosto deste ano em comparação com agosto de 2005 e de 5,3% nos oito primeiros meses do ano em comparação com igual período do ano anterior. Enquanto isso, a produção vai crescendo alguma coisa entre 3,0% e 3,5%, como é de conhecimento geral. Maior precisão sobre o comportamento tanto do consumo quanto da produção teremos quando saírem os resultados do comportamento do PIB no terceiro trimestre, previstos para 30 de novembro. O segundo subentendido é o de que o Banco Central passa o recado de que está fazendo sua parte. A derrubada dos juros, em 6 pontos porcentuais (de 19,75% para 13,75% ao ano) desde setembro de 2005, está contribuindo para o aumento do crédito e para expansão do consumo. Cabe agora ao setor produtivo aumentar os investimentos e o giro de suas máquinas para dar conta desse aumento da procura. A demanda já está suficientemente ativada; não seria a queda maior dos juros que estimularia o lado da oferta - adverte o Banco Central. O terceiro subentendido é o de que, se as importações não forem suficientes para suprir o aumento da demanda, o risco é de que sobrevenha a tal inflação de demanda - a alta de preços que acontece quando a oferta não dá conta da procura. Nessas condições, o Banco Central teria de acionar os mecanismos da maior parcimônia na condução da política monetária. Este é o eufemismo usado pelo Banco Central para indicar um corte menor nos juros lá na frente - ninguém sabe quando. Os empresários têm se queixado de que uma das razões pelas quais a indústria não responde da mesma forma que o comércio tem a ver com o câmbio. Às atuais cotações - dizem - o produto industrial está perdendo mercado para o importado. Daí a necessidade de desvalorização do real ante o dólar. Esta é uma pequena parte da verdade. Os custos da indústria são altos em conseqüência de uma alentada lista de fatores: alta carga tributária, condições precárias da infra-estrutura, falta de agilidade do setor público, juros escorchantes na ponta do tomador de crédito e por aí vão. São entraves que só se resolvem com investimentos ou reformas de base. Mas fiquemos com o câmbio. As coisas deixam de avançar quando os críticos concluem que ele está fora de lugar. Chegou aí, não se sabe o que fazer. O Banco Central não pára de comprar dólares; as reservas estão perto dos US$ 80 bilhões, mas as cotações não reagem. Há os obcecados que insistem em que é preciso derrubar mais os juros. Se essa pressão fizesse sentido, os 6 pontos de queda já teriam tido algum efeito sobre o câmbio. E não é o que se vê. Aparentemente, apenas quando as importações ficarem bem mais altas é que as pressões baixistas sobre o câmbio poderão ser revertidas. Os juros são, é verdade, os mais altos do mundo. Mas levam só uma parte da culpa. Tanto é assim que o consumo vai crescendo mais do que a produção. Enfim, a política de juros é um demônio fraco demais para toda a água benta que os críticos querem jogar sobre ela. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, novembro 03, 2006
Celso Ming - A demonização dos juros
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