Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, novembro 03, 2006

Cenário de novela


Artigo: Renato Ferraz
Correio Braziliense
3/11/2006

Vários aeroportos brasileiros foram reformados nos últimos anos. Alguns ficaram belíssimos, chiques até demais. Têm espelhos d´água, paineiras. O do Recife possui obras de Francisco Brennand. O de Congonhas, de Romero Brito. Além de bancos, boas revistarias e até a Guinness — a cerveja mais famosa do mundo. No de Brasília há elevadores panorâmicos, cinemas, lojas de grife — são, ao todo, 136 pontos comerciais. Todos parecem cenários de novela da Globo: pela frente, belos e perfeitos; por trás, um caos.

As esteiras de retirada de bagagens, por exemplo, são curtas — num vôo lotado, se formam três anéis de filas em torno delas. E aí haja empurrões, atropelamentos, falta de civilidade e cortesia. Não justifica, mas explica o mau humor dos passageiros: todos estão apreensivos com o estado de suas malas, que geralmente aparecem sujas, molhadas, rasgadas e, às vezes, semiabertas. Para piorar, os carrinhos quase sempre estão com as rodinhas travadas pelo acúmulo de sujeira.

Nos principais, como os de Brasília, Guarulhos, Galeão e Congonhas, são rotineiras as filas nos guichês da TAM e da Gol. Ao lado, vários balcões vazios, pois a Infraero entende que eles ainda são da Varig, Vasp, Transbrasil e, se brincar, da Pan Am. Estranhamente, não os repassa às demais companhias. Isso ocorre, também, com os slots (horários e espaços para pousos e decolagens).

Nas salas de embarques não há cadeiras disponíveis para todos. Resta o chão — limpo, por sinal. Deu fome ou sede? Se prepare: geralmente só há uma lanchonete, que cobra o que bem entender: coxinha de galinha fria, R$ 7; chope de 200ml, R$ 6; batatinhas fritas, R$ 15.

E ainda temos que enfrentar overbooking, atrasos, funcionários despreparados e anomalias que, de tão comuns, já provocam risos — como as mudanças freqüentes do portão de embarque: “Atenção senhores passageiros do vôo 7788. Devido ao novo (sic) reposicionamento da aeronave, a companhia informa que o embarque, quando autorizado, será realizado pelo portão 1”. E lá vai você andar dois mil metros até ouvir: “Atenção senhores passageiros….”

Renato Ferraz
renato.ferraz@correioweb.com.br

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