Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, julho 24, 2006

A nova Reforma da Natureza - FERNANDO DE BARROS E SILVA




Folha de S. Paulo
24/7/2006

O leitor deveria desconfiar da palavra "reforma". Ela se tornou peça obrigatória das idéias feitas do vocabulário eleitoral. Quem gosta de propagandear reformas geralmente não sabe definir com clareza suas prioridades de governo. Ou, por outra, pretende esconder suas prioridades reais do debate público.
A versão atual desse fetiche pelo reformismo remonta à Constituição de 88, que deu garantias sociais inéditas e engessou a atividade econômica, ambas as coisas (direitos demais e negócios de menos) na contramão da era liberal já então em curso, à qual o país só viria aderir com atraso.
Num registro mais profundo, porém, a reiteração da retórica reformista talvez seja um sintoma da nossa incapacidade histórica de promover a única reforma que de fato importa: a social. Sim, isso também já é um clichê, mas o país segue girando em falso, cada vez mais indiferente, diante da desiguldade que permanece inalterada. Valeria reler sob esse prisma "A Reforma da Natureza", de Monteiro Lobato.
A campanha presidencial agora recoloca a reforma política no centro do palco. De compreensão não muito simples e interesse um tanto remoto para a maioria das pessoas, ela tem sido vendida como um (ou "o") antídoto à corrupção. E por aí costuma pegar.
Alckmin já disse que ela será um dos atos iniciais de seu eventual governo. E Lula ainda ontem voltou ao tema -disse que sem reforma política os escândalos se repetirão.
Fetiches e falácias. Primeiro: reforma política não é antídoto à corrupção nem aqui nem no Sítio do Picapau Amarelo. Segundo: não há consenso mínimo entre os principais partidos nem sobre os termos da fidelidade partidária. Terceiro: reforma política é o nome publicável que se quer dar à cooptação e acordos, uns publicáveis e outros não, entre o governo e o PMDB.
Lula parece disposto a transformar Renan Calheiros numa espécie de primeiro-ministro e Sarney em vice-rei de seu eventual segundo mandato. E a isso Tarso Genro, o Rolando Lero do PT, de peito estufado chama de "concertação".

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