Os novos ventos da mídia me levaram a uma separação amigável da Folha, depois de 20 anos de trabalho conjunto
O FUTURO chegou para a mídia. Embora aguardado há muito tempo, agora começa a se materializar. Primeiro, foram as informações em tempo real, por meio de terminais especializados. Depois, a "bolha" da internet, prometendo o que não poderia entregar naquele momento.
Passado o impacto inicial, tem-se um novo mundo pela frente, especialmente para a mídia. Um mundo com superoferta de informações, com tal complexidade que muitas vezes se prefere recorrer ao superficial a enfrentar o risco de tentar clarear o complexo.
A revolução está chegando não apenas ao tratamento das informações mas também à sua disseminação. Nas diversas CPIs dos últimos meses, provavelmente havia mais espectadores atrás das imagens transmitidas pela internet do que da TV aberta ou mesmo do cabo.
Ao mesmo tempo, irão ocorrer revoluções tão importantes quanto as tecnológicas nos negócio da mídia. Temas como parceria, terceirização, segmentação, cadeia produtiva, trabalho em rede em breve tornarão anacrônicos os velhos modelos da verticalização e dos sistemas convencionais de produção da informação.
Novos parceiros deverão se consolidar, como a imprensa regional, empresas de telecomunicações, empresas de tecnologia em geral, bancos, abrindo espaço para um jogo estratégico de uma riqueza sem precedentes.
São esses novos ventos que me levaram a uma separação amigável da Folha, depois de 20 anos de trabalho conjunto, para poder me dedicar integralmente à Agência Dinheiro Vivo, que montei justamente no primeiro período de separação da Folha, como a primeira empresa jornalística a trabalhar no país com o conceito de informação em tempo real.
A saída não significará separação. Manterei meu blog no UOL, a amizade com os Frias e as lembranças das vitórias conquistadas nesse período, graças ao prestígio do jornal e à vitrine que me abriu.
Embora tenha por hábito sempre olhar para a frente, não posso deixar de lembrar com carinho a fértil convivência com pessoas como Janio de Freitas e Clóvis Rossi, ranhetas admiráveis e leais, a doce Eliane Cantanhêde, a paciente Eleonora, os colegas do caderno Dinheiro, as reuniões do Conselho com a sabedoria de Cony, Cerqueira Leite, Marcelo Coelho, Otavio Frias Filho e, principalmente, Octavio Frias de Oliveira, seu Frias. E, é claro, com essa comunidade seleta e inquieta dos leitores da Folha.
Provoquei-os muitas vezes, indo contra as ondas de casos como Escola Base, Bar Bodega, Chico Lopes, Dossiê Cayman, o caso do índio Pataxó, o caso Suzane, os dólares de Cuba. Mas creio ser uma das missões da imprensa jogar no contratempo, expor o ângulo não analisado, o contraditório, o aspecto não considerado nesses movimentos de manada que periodicamente assolam o setor.
Dedico-me, agora, ao velho sonho de focar todas as energias a prospectar o novo, que estará fundamentalmente no jornalismo virtual, valendo-me das condições proporcionadas pelo futuro que chegou.
PS: Aos que acompanhavam as crônicas de domingo, poderão recebê-las todo domingo acessando o blog www.luisnassif.com.br, no UOL, ou simplesmente enviando um e-mail para o endereço crônica@dvnet.com.br, com a palavra "Incluir" no assunto. O futuro não é fantástico?
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