Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 23, 2006

EUA desaceleram, mas exportam mais Alberto Tamer

ESTADO


Viva! A economia americana está desacelerando, só vai crescer menos internamente e exportar mais... Bernanke nem precisa aumentar os juros novamente... Paradoxal? Pode ser, mas está sendo exatamente a reação do mercado internacional aos fatos e aos dois últimos pronunciamentos do presidente do Fed, banco central americano, Ben Bernanke.

Resumindo: ele disse que os sinais de menor crescimento econômico irão conter a pressão inflacionária e permitem não prever para já um novo aumento da taxa básica de juros dos Estados Unidos.

O mercado financeiro vibrou, as ações nas Bolsas valorizaram-se, soltaram rojões por todos os lados. Tenho o direito de interpretar com certa ironia, fiquem tranqüilos, pois o Fed vai permanecer cauteloso, a inflação pressiona, mas, como estamos crescendo menos, ela vai acabar sendo restringida pela menor demanda. A gente se abaixa e deixa a ventania passar por cima.

O mais curioso é que até aqui, no Brasil, a Bolsa e muita gente até de peso andaram festejando o fim da temporada dos furacões, o sobe-não-sobe dos juros americanos, com olhos esgazeados no aumento da inflação no “império americano”, aqueles perversos ambiciosos que representam mais de 30% do crescimento mundial e, consumidores irresponsáveis, perdulários obstinados, importam cerca de US$ 2 trilhões por ano; comem toneladas de Big Macs sem medo do colesterol e têm o hábito compulsivo de emagrecer fazendo cooper. (Lembro-me de uma vez em que marquei entrevista para as 14 horas com um economista americano da Organização para o Desenvolvimento Econômico e Social(OCDE), cheguei um pouco mais cedo, esperei na sua sala onde havia pelos cantos pelo menos meia dúzia de tênis, e, de repente, ele, um jovem, entrou de short, suando, bufando, pedindo desculpas pelo atraso, pois tinha feito o seu cooper diário e me atenderia após uma chuvarada. Pormenor: ele me deu uma explicação minuciosa e cheia de estatísticas sobre as relações entre taxas de emprego e desemprego no mundo, tudo sem sequer pegar um papel...)

ALEGRE, POR QUÊ?

Quem ficou alegre no Brasil porque o Fed não aumenta os juros agora, pois a economia não deve crescer mais de 3% (as estimativas que demos aqui são em torno de 2,8% ou 2,9%), não prestou a atenção devida a alguns dados que foram divulgados nesta semana.

EUA AVANÇAM NO MERCADO


1 - Enquanto a economia interna encolhe, as exportações americanas aumentaram 10% nos cinco primeiros meses. Totalizaram US$ 376 bilhões, anualizados. E são de produtos de bens agregados, que geram empregos, como material pesado de construção, equipamentos, entre outros, que aumentaram 15%.

2 - As importações americanas continuam crescendo aceleradamente. Neste ano devem ficar de novo em torno de US$ 2 trilhões, incluindo serviços. E daí? E daí é que no ano passado o Brasil exportou para os EUA o equivalente a US$ 21 bilhões, ou seja, algo aí de 1,1%. Neste primeiro semestre não passamos de US$ 11 bilhões. E nossa amizade fraternal com o generalíssimo Chávez, que praticamente declarou guerra aos EUA, exibindo-se com metralhadoras importadas da Rússia ou da China, e seu ingresso no Mercosul, não vai ajudar nada. Simplesmente jogou a última pá de cimento na Alca.

SÓ PRODUTOS BARATOS

3 - As importações no mesmo período cresceram 6%, totalizando ainda US$ 666 bilhões, mas a expansão do déficit comercial diminuiu. Eles estão importando mais produtos baratos da China, do México e de outros parceiros comerciais; não do Brasil

É O DÓLAR, SENHORES!


Esse desempenho das exportações deve-se, em grande parte, ao impacto da desvalorização do dólar, que foi de 14% desde 2002. “A desvalorização leva algum tempo para refletir sobre a competitividade dos produtos; é o que estamos sentindo agora. Esperamos que as exportações de produtos industriais acelerem 7,7% neste ano”, estima a Aliança das Indústrias Manufatureiras, que representa o setor. E, a manter esta tendência, diz a entidade, vamos chegar a 9,7% no próximo ano.
De acordo com o Departamento do Comércio, nos cinco primeiros meses do ano as exportações de máquinas para o Japão aumentaram 22%, para a China, 16%. E o Brasil? Nada menos que 31%, em relação ao ano passado. Dados oficiais do governo.

Esses números são confirmados pelo vice-presidente da United Technologies Corp., Graig cujos lucros tiveram forte aumento neste primeiro semestre. “Os ganhos mais do que duplicaram em grande parte à nossa penetração nos países emergentes.”

EUA GANHAM MERCADOS


O mesmo afirma a Harley Davidson, fabricante principalmente de motocicletas, cujas exportações aumentaram mais de 17% só no segundo trimestre.

Eu poderia citar no mínimo mais 15 empresas cujos relatórios divulgados nestas duas semanas confirmam não uma tendência, mas um fato: as empresa americanas, neste semestre, estão duplicando e até triplicando suas exportações para parceiros tradicionais, sim, mas principalmente países emergentes com taxa cambial favorável. Exemplo, o Brasil.

CHINA, EUA E NÓS

Esses fatos mostram que a desaceleração do crescimento dos Estados Unidos está levando as empresas americanas a invadir novos mercados, ajudadas pela desvalorização do dólar. São fortíssimas competidoras.

E, como se não bastasse, temos aí a China, que simplesmente está se apossando tranqüilamente do mercado brasileiro e mundial.

No ano passado, a China exportou, ao todo, US$ 762 bilhões (só para comparar, Brasil exportou US$ 118 bilhões.) Ela representava naquele ano 7% do comércio mundial, nós, 1,1%. E eles continuam exportando cada vez mais.

Conclusão: se antes enfrentávamos principalmente a vigorosa competição chinesa no comércio mundial, agora vamos enfrentar também a dos Estados Unidos!

Mas não faz mal, não. O “importante” para nós e para nossa alegria é que o Ben Bernanke não vai aumentar muito mais os juros americanos... Os EUA só vão entrar roubando o escasso mercado externo brasileiro... Ufa!

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