O GLOBO
Israel fala sério
O ataque ao Líbano é um sinal do que será a reação de Israel a uma eventual nuclearização do Irã.
Pode-se acompanhar o debate fingindo que Israel não tem bombas atômicas. Acalma a agenda, mas não resolve o problema. Hoje, a capacidade nuclear de Israel na região está, no barato, entre 50 e cem bombas. Poderio superior ao que dispunham os americanos e soviéticos no final dos anos 50. Em 1959, quando os russos ameaçavam os Estados Unidos com uma chuva de mísseis, “como se fossem lingüiças”, seu poder de fogo era de seis foguetes a cada 24 horas.
Durante a guerra do Yom Kippur, Beirute esteve perto de passar pelo que passa nestes dias. Quem abortou a expedição foi o general Ariel Sharon.
Lula, o Grande
Alguma coisa subiu à cabeça de Nosso Guia em São Petersburgo, durante a reunião dos chefes de Estado das oito nações mais ricas do mundo e seus convidados, entre os quais ele se incluía.
A certa altura, disse o seguinte:
“Não espero menos de meus colegas aqui presentes.”
Ou recebeu o espírito de Pedro, o Grande (“O imperador não presta contas a ninguém”), ou achou que estava num almoço de companheiros na Granja do Torto.
Lula não falava em nome próprio, mas por delegação dos convidados. Não há notícia de governante que tenha se dirigido aos demais nesse tom.
Por essas e outras alguns “colegas” preferem manter educada distância de Nosso Guia. A saber: Nestor Kirchner, da Argentina; Vicente Fox, do México; Ricardo Lagos, ex-presidente do Chile; José Maria Aznar, ex-primeiro-ministro da Espanha; e José Manuel Durão Barroso, ex-primeiro ministro de Portugal, atual presidente da Comissão Européia. Se Lula se descuidar, Jacques Chirac entra nessa lista.
Achaques
Há “altos companheiros” arrecadando dinheiro para a campanha de Lula a partir dos cargos que ocupam na administração, alavancados pela intermediação de agentes do poderio do Estado.
Essa conduta ofende a legislação eleitoral e compromete a honestidade política da administração.
Se o PT quer o ervanário dos magnatas, deve recorrer à sua estrutura partidária para encaminhar as solicitações. Qualquer outra forma de coleta, como as que andam acontecendo por aí, denomina-se achaque.
Pavor dela
Tudo indica que Lula não colocará os pés num debate com os outros candidatos à Presidência.
Essa decisão nada tem a ver com um eventual receio de encarar Geraldo Alckmin. É o pavor da peixeira de Heloísa Helena.
Ética seletiva
O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, promete expulsar os três tucanos sanguessugas pois o partido não pode “hipocritamente exigir a moralidade e a honestidade, sem praticá-la”.
Será? Em março passado conheceu-se a gravação de uma conversa do deputado Domiciano Cabral (PSDB-PB) com seu sogro-empreiteiro. Discutiam comissões e o sogro disse-lhe: “Se esse dinheiro do DNER sair, você pega uma boa bolada para a campanha”.
Cabral reagiu dizendo que abandonaria a política, de “saco cheio” com o denuncismo. A presidência do PSDB anunciou que, em nome “da moralidade e da transparência”, instaurara um processo para expulsá-lo do partido.
Quem acreditou no surto tucano de março terá que esperar o dia 2 de agosto. Cabral desistiu da reeleição, mas a expulsão virou proposta de suspensão por 12 meses.
FHC ri por último: o PT quer o ‘voto útil’
Fernando Henrique Cardoso já viu de tudo, mas faltava-lhe ver o PT defendendo um tipo deformado de “voto útil”. A chegada de Heloísa Helena ao patamar dos 10% indica que sua candidatura poderá determinar a realização de um segundo turno, entre Nosso Guia e Geraldo Alckmin. Diante disso, reapareceu uma velha gambiarra: não se deve votar na senadora porque ela ajuda o candidato tucano, levando-o para um segundo turno no qual poderá derrotar Lula.
Sem entrar no mérito da candidatura de Heloísa Helena, essa construção é um balaio de falsidades. A maior delas pressupõe que se deva reeleger Lula no primeiro turno porque, se houver uma segunda rodada, ele pode perder. Como os eleitores do segundo turno são os mesmos do primeiro, uma derrota de Lula não poderá ser considerada conseqüência dos votos dados à ex-petista. Lula vencerá se tiver mais votos que Alckmin e perderá se tiver menos. O resto é parolagem.
É da professora Marilena Chauí uma severa condenação do “voto útil”. Ela a fez num artigo de outubro de 1985, às vésperas da eleição em que Fernando Henrique Cardoso (PMDB) e Jânio Quadros (PFL) disputavam a Prefeitura de São Paulo. Naquele tempo não havia segundo turno, o que dava um toque de letalidade às pequenas candidaturas. O PT se recusou a apoiar FHC e lançou Eduardo Suplicy. Argumentava-se que essa decisão poderia eleger Jânio. (Suplicy teve 827 mil votos e Jânio bateu o Príncipe por uma diferença de 141 mil.)
Sabendo-se que Heloísa Helena foi expulsa do PT num auto-de-fé conduzido pelo tesoureiro Delúbio $oare$ e que Lula vai à reeleição com o apoio de nove em dez mensaleiros ou sanguessugas, ouça-se o que disse a professora Chauí, depois de enumerar diversos argumentos:
"Além dessas razões, existe uma outra, que diz respeito à dignidade política: não é aceitável, depois de afastar um aliado numa luta cívica nacional, desejar que o PT ajude o PMDB a ganhar a parada nos conflitos com o PFL. O PMDB julgou mais proveitosa a aliança que fez.
Que faça bom proveito. Em vez de bradar que o PT elegerá Jânio, seria menos irracional indagar o que tornou possível essa candidatura."
O Mercosul precisa é de Mary Montilla
OMercosul deve ser fechado com chave. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai conversam bilateralmente e acabou-se. Sobrariam Fidel Castro e Hugo Chávez, que poderiam contracenar aos domingos com Mary Montilla (Carmem Verônica) e Guida Guevara (Iris Bruzzi).
A Comunidade Européia foi produzida por mais de trinta anos de paciência e seriedade. Conhecem-se os nomes dos grandes homens que a conceberam (o francês Jean Monnet ou o belga Paul Henry Spaak ) mas ninguém lembra quais foram os governantes que tentaram faturar o trabalho alheio. Ninguém lembra porque nenhum governante europeu deu-se a essa demagogia. No Mercosul aconteceu o contrário. Montou-se um fandango contrariando os pareceres técnicos e transformou-se um projeto comercial num programa de circo.
Para o Brasil, quanto mais cedo se acabar com essa fantasia, mais espaço haverá para se cuidar dos problemas regionais verdadeiros. O pior deles está no Paraguai. Noves fora as fumaças que vêm de Itaipu, a diplomacia americana, com muita paciência, articula a reciclagem de suas relações com Assunção. Querem um enclave policial-militar em Marechal Estigarribia, a 300 quilômetros da fronteira com o Brasil. Sabendo-se que a base americana de Manta, no Equador, é hoje um dos mais bem equipados aeroportos do continente, percebe-se que George Bush está integrando a América do Sul com muito mais sucesso do que Nosso Guia.
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