O Globo |
26/7/2006 |
A confirmação, pela pesquisa do Ibope de ontem, da tendência de crescimento de Geraldo Alckmin e Heloísa Helena e de queda de Lula pode sinalizar que está sendo reavivado no país o clima de indignação provocado pelas primeiras denúncias do mensalão. Num hipotético segundo turno, a diferença a favor de Lula caiu para menos de dez pontos percentuais. A entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson, que fez um ano este mês, teve como conseqüência imediata um empate técnico entre Lula e o então prefeito de São Paulo, José Serra, em agosto passado, na pesquisa de segundo turno. A partir dali, a popularidade do presidente Lula conheceu cinco meses seguidos de decadência. Serra chegou ao empate técnico ainda no primeiro turno, e em dezembro já vencia Lula nos dois turnos. Nesse período, também o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, empatava com Lula no segundo turno, o que levou o ex-presidente Fernando Henrique a comentar que qualquer candidato do PSDB venceria Lula num segundo turno. O presidente Lula aproveitou o recesso do Congresso, no fim do ano, e a conseqüente redução da carga de trabalho da CPI dos Correios para reagrupar suas forças políticas, e começou a viajar pelo país cortando fitas de inauguração mesmo com obras inacabadas. Comandou uma operação tapa-buracos que teve aparente eficácia junto à opinião pública, mas que será uma das armas da oposição no programa eleitoral gratuito de TV, a partir de 15 de agosto: os buracos já estão todos de volta, e muitas denúncias de corrupção surgiram na esteira das obras sem licitação. Em janeiro, o esforço de marketing do governo mostrou os primeiros efeitos. Serra, que em dezembro abrira nada menos que 13 pontos de vantagem sobre Lula num segundo turno, voltou a estar em empate técnico com o petista em pesquisa do Ibope: 35% para Lula e 31% para Serra. Em março, Lula já abria uma larga vantagem sobre o candidato oficial do PSDB, Geraldo Alckmin: 43% a 19%. Lula chegou a 48% em junho, enquanto Alckmin patinava na casa dos 20% até a rodada de ontem, quando a diferença entre os dois, que já foi de 19 pontos percentuais, caiu para quase a metade. Lula e o PT podem ter sido levados pela sensação de invencibilidade a adotar atitudes de enfrentamento da opinião pública que agora estariam revertendo contra eles. O PT, que não tem qualquer razão para achar que escapou do julgamento do eleitorado, pois aparece como o partido mais atingido nesse desgaste generalizado da classe política, assumiu a candidatura de todos os mensaleiros como se isso não fosse uma afronta à opinião pública. Lula, confiante na sua liderança carismática, aceitou em seu palanque os políticos envolvidos nos mais diversos escândalos, num gesto profundamente arrogante, como se sua mera aceitação anistiasse os companheiros. No lançamento de sua candidatura em Brasília, vários mensaleiros estavam presentes, como o Professor Luizinho ou o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, e os principais assessores de Lula diziam que não havia nenhum constrangimento. Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, chegou a dizer que “haveria constrangimento se eles não tivessem voto”. No comício em Pernambuco, o candidato do PT ao governo, ex-ministro Humberto Costa, era uma das estrelas do palanque, apesar de envolvido no escândalo dos sanguessugas. Ao lado da reativação dos escândalos de corrupção com a lista dos sanguessugas, que envolve basicamente os mesmos partidos dos mensaleiros, todos da base aliada do governo montada às custas de propina do valerioduto, uma outra faceta do PT, a do totalitarismo, voltou a aparecer em vários episódios. A reunião de Córdoba com a presença de Fidel Castro e Hugo Chávez, por si só, já gerou a sensação de que o Mercosul está sendo politizado à esquerda para se transformar em um instrumento de confronto com os Estados Unidos. A fotografia de Lula com os líderes do G8 foi neutralizada pela proximidade dele com os líderes populistas da América Latina e, principalmente, com o apoio explícito à sua reeleição por parte de Chávez, o que claramente o incomodou, mas era inevitável. Havia antecedentes, sempre com conseqüências negativas para o apoiado: Humala, no Peru, e Obrador, no México, perderam a eleição. Nos últimos dias, vários episódios envolvendo o MST vieram a público, depois da saída do Ministério da Agricultura de Roberto Rodrigues, que era considerado um dos mais eficientes ministros do governo. Bruno Maranhão, o líder do MLST que invadiu e depredou a Câmara, saiu da prisão por pressão do procurador dizendo que vai apoiar a reeleição de Lula; o líder do movimento de agricultura familiar elogiou, na presença de Lula, a disputa de classe no campo; o ex-ministro cassado José Dirceu fez campanha com a bandeira do MST no Pontal do Paranapanema, junto com o ex-presidente do PT José Genoino e José Rainha. São sintomas do que poderá vir a ser um segundo mandato de Lula, e que certamente incomodam uma parcela da classe média e alta que foi eleitora de Lula em 2002. Lula está repondo esses votos perdidos com uma maior penetração nos grotões, onde pretende substituir, pelo carisma pessoal e os programas assistencialistas, a influência dos líderes políticos regionais, hoje unidos em sua maioria em torno de Alckmin. Lula tem a intenção direta de voto, a identificação com o eleitorado menos favorecido, e luta contra o tempo. Acumulou vantagem considerável, que vai se desfazendo à medida que a campanha chega nos dois meses finais. Estamos assistindo a uma disputa pelo controle desse eleitorado desinformado, mas determinante em qualquer eleição. O eleitorado informado, esse Lula parece que já perdeu. |
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