O presidente Lula já foi considerado, sucessivamente, imbatível; derrotado previamente, no auge do escândalo do mensalão; e virtualmente eleito ainda no primeiro turno. Hoje, apesar de Lula continuar favorito, já se admite a possibilidade de haver um segundo turno e, nesse caso, trabalha-se nos meios políticos com a hipótese de que o tucano Geraldo Alckmin possa virar o jogo e vencer a eleição de outubro. Só a confirmação de um segundo turno seria uma derrota do governo, que entraria psicologicamente abalado na fase final da disputa. O candidato tucano, embalado pelas últimas pesquisas, está convencido de que está no segundo turno, e torna-se mais ousado nas suas previsões.
Para ele, no momento não existem ainda intenções de voto, e sim reconhecimento dos concorrentes. Lula vai para sua quinta eleição de presidente seguida, e exerce a Presidência como se estivesse em campanha desde o primeiro dia, por isso apareceria nas pesquisas como favorito. Para Alckmin, no entanto, não é certo que Lula saia na frente no primeiro turno, embora para ele o importante seja ir para o segundo turno, “uma outra eleição”. Não importa se as experiências anteriores não confirmem essa sua certeza.
Quando é lembrado da eleição de 2002, quando Lula liderou a corrida presidencial desde o início e nunca esteve em perigo sua vitória no segundo turno contra Serra, Alckmin diz que aquela foi uma eleição atípica, na qual o candidato tucano José Serra enfrentou o desgaste de oito anos do partido na Presidência e mais desavenças na coligação.
Hoje, Lula é que estaria desgastado, e Alckmin não acredita que o “recall” do presidente se transforme em votos. “A campanha eleitoral vai reavivar todos os escândalos de corrupção que chocaram o país. Essa memória está adormecida, mas não esquecida. Sinto que o povo está cansado disso tudo e quer mudanças”, diz Alckmin.
O tucano está convencido de que, apesar de empatado com Lula no Sul e no Sudeste, a tendência é que nessas regiões a vitória seja sua. E acredita que a tendência que vem do Sul do país acabará chegando às outras regiões, especialmente ao Nordeste, onde Lula predomina, com grande vantagem. “Lula lidera nas regiões onde a informação demora mais a chegar, mas ela acaba chegando e equalizando o voto”, analisa.
Política não é matemática, e o primeiro a dizer que eleição é “um embate de personalidades” é o próprio Alckmin, que acredita que somente com a propaganda gratuita de rádio e televisão começa mesmo a campanha eleitoral. Mas o economista Alexandre Marinis, da Mosaico Consultores, que gosta de fazer projeções matemáticas com base na análise das campanhas passadas, tem uma má notícia para Alckmin.
A partir da análise de 121 eleições brasileiras decididas em segundo turno nos últimos 15 anos, desde as eleições presidenciais de 1989 e de 2002, às eleições para governador em 1994, 1998 e 2002, além das eleições para prefeito em 2000 e 2004, chegou à conclusão de que o segundo turno virou o resultado de apenas 27% das eleições analisadas.
Mais ainda: a probabilidade de o resultado de uma eleição virar do primeiro para o segundo turno é significativamente menor se os dois primeiros colocados encerrarem o primeiro turno com uma diferença superior a dez pontos percentuais dos votos válidos, como é o caso de hoje, quando Lula supera Alckmin nas pesquisas por uma média de 18 pontos percentuais.
Das 33 viradas de segundo turno analisadas pela Mosaico Consultores, nada menos do que 27 (ou 82% do total) ocorreram quando a diferença de votos válidos entre os dois primeiros colocados no primeiro turno era inferior a dez pontos percentuais. Apenas seis viradas (18% do total) ocorreram quando essa diferença ultrapassou dez pontos percentuais dos votos válidos.
A probabilidade de virada no segundo turno aumenta, segundo os cálculos do estudo, pouco mais de dois pontos percentuais para cada ponto percentual de voto válido a menos separando os dois primeiros colocados no primeiro turno. Por esses cálculos, o candidato do PSDB precisaria conquistar seis pontos das atuais intenções de voto no presidente Lula para passar a ter chances concretas de vencer a eleição presidencial de outubro.
Se a distância entre os dois primeiros colocados no primeiro turno caísse, por exemplo, dos 18 pontos de votos válidos que separam hoje Lula de Alckmin para apenas cinco pontos, a probabilidade de virada aumentaria dos atuais 12% para 39%, diz o estudo.
Segundo o estudo da Mosaico, a probabilidade de virada oscila entre 35% e 40% para eleições nas quais os dois primeiros colocados encerram o primeiro turno separados por menos de 7,5 pontos percentuais dos votos válidos. E a probabilidade de virada cai abaixo de 10% para eleições nas quais os dois primeiros colocados encerram o primeiro turno separados por uma diferença de votos válidos superior a 17,5 pontos.
Uma boa notícia para Alckmin é que o nível de votos alcançado pelo líder do primeiro turno não é preponderante para definir a possibilidade de virada da eleição no segundo turno. Em termos estatísticos, há praticamente a mesma proporção de viradas tanto nas eleições nas quais o líder do primeiro turno quase alcançou os 50% dos votos válidos capazes de elegê-lo em um único turno, quanto entre eleições nas quais o líder do primeiro turno alcançou um patamar relativamente baixo de votos.
O estudo classifica a eleição para o governo de Minas Gerais em 1994 como uma das viradas eleitorais mais atípicas da história recente do país. Hélio Costa, então no PP, quase se elegeu no primeiro turno ao alcançar 48,3% dos votos, mas acabou perdendo para Eduardo Azeredo (PSDB) no segundo turno com uma desvantagem de mais de 17 pontos percentuais dos votos válidos.
Entrevista:O Estado inteligente
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