O Estado de S. Paulo |
28/7/2006 |
Quem leu com razoável atenção a ata do Copom ontem divulgada pelo Banco Central deve ter percebido a insistência com que foi mencionado o efeito pipeline da política de juros. Essa expressão não está na ata, mas de vez em quando aparece nas análises econômicas internacionais para designar o que ainda não veio, mas está chegando. Pipeline, em inglês, é tubulação. Até chegar à ponta da torneira, um líquido qualquer tem de percorrer toda a extensão do tubo. Por exemplo, para percorrer os 236 quilômetros até a refinaria de Paulínia, o petróleo colocado no oleoduto de São Sebastião leva, em média, 40 horas. A mensagem da ata é a de que, em política de juros, não se pode olhar apenas para a vazão do momento; é preciso levar em conta o que vem vindo ou o que vai deixar de vir. Em outras palavras, a ação da política monetária não é imediata. Quando o Banco Central derruba os juros, injeta mais dinheiro na abertura do tubo; quando sobe os juros, faz o contrário. O impacto de cada injeção ou corte de dinheiro leva um tempo para acontecer, que varia de economia para economia. Não se sabe com exatidão como isso funciona por aqui, mas os técnicos repetem que os juros levam cerca de seis meses para agir sobre a inflação e de sete a oito para agir sobre o ritmo da produção. Um dia um economista vai fazer um estudo mais rigoroso sobre isso. Mas quem conhece um pouco de mecânica de fluidos sabe que, na mesma tubulação, os tempos dos fluxos variam de acordo com temperatura, pressão, inclinação, qualidade dos fluidos e outros fatores mais. Quer dizer, para cada fase da economia, o efeito pipeline pode ser diferente. De setembro de 2005 até agora, o Copom cortou 5 pontos porcentuais dos juros básicos. Mas não cortou de uma vez; foi tudo muito gradual. O impacto disso já está acontecendo, mas há mais coisa vindo pela tubulação. O que o Banco Central está dizendo agora é que os juros vão continuar caindo, mas o ritmo terá de ser outro porque é preciso levar em conta o que ainda vem chegando. O Banco Central chama a atenção para a existência desse efeito retardado. Além disso, adverte para que "a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia". Os especialistas em oráculos do Banco Central estão farejando nessas expressões-chave cortes menores dos juros nas próximas reuniões. Coisa para conferir. No entanto, o tom geral da ata é um dos mais otimistas de toda a história do Copom, que começou em junho de 1996. Produção, consumo e emprego no País tendem a crescer sem produzir inflação. A forte volatilidade externa não deve ser entendida como manifestação de crise internacional. O impacto da alta do petróleo continua limitado. A expectativa dos agentes econômicos internos converge para as metas de inflação. Tudo o que está escrito nesta coluna até aqui quer apenas mostrar como as coisas funcionam com este Banco Central. Sempre vai haver quem defenda uma turbinada na liquidez dentro desse tubo ou que o Banco Central opere mais aos trancos em vez de insistir em tanto gradualismo. Decididamente, não é o que pretende o governo federal. Se pretendesse, o presidente Lula já teria dado um jeito de trocar a equipe que cuida da tubulação. Pretexto para isso não faltou ou não falta. Mais do que isso, Lula parece satisfeito com o que está acontecendo. Todos os dias os ouvidos presidenciais recebem o impacto de mil reclamações sobre o que se entende por excessiva ortodoxia do Banco Central. É uma conversa que entra por um lado e sai pelo outro, sem muita tramitação no pipeline auditivo do presidente. Lula parece mais sensível ao que ouve nos seus contatos com o povão. Essa gente está satisfeita com esses tempos de inflação baixa, bem mais do que ficaria com a redução do desemprego. Para espanto de muita gente fora e dentro do governo, o presidente Lula age ou deixa de agir como se seu maior cabo eleitoral fosse essa equipe de ortodoxos do Banco Central. Dentro dessa linha de raciocínio, considere dois paradoxos. O primeiro é o de que isso acontece num governo que quer ser visto como popular. O segundo é o de que o presidente do Banco Central é banqueiro de carreira e que, nas últimas eleições, foi eleito deputado federal pelo passaredo tucano. |
Entrevista:O Estado inteligente
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