26/7/2006 |
Aconselhado, quem sabe, a começar a falar da ferida exposta do seu governo - o mensalão -, como uma espécie de aquecimento para enfrentar as acusações de conivência com a corrupção que lhe serão lançadas no horário de propaganda eleitoral, o presidente Lula resolveu abordar a chaga à maneira asséptica de um observador acadêmico. Discursando para políticos nordestinos, domingo, em Olinda, o presidente atribuiu "o erro de cada um" não aos errados ou aos seus partidos, mas aos "acúmulos de deformações que existem na estrutura política" e receitou a panacéia de uma reforma política tão abrangente que alcançaria desde a vida partidária até o regimento da Câmara e do Senado. À parte o fato de ele ter tido quase um mandato inteiro para respaldar os projetos reformistas que vagueiam pelo Congresso, Lula está certo - em parte - ao apontar os vícios estruturais do sistema político como um estímulo às costumeiras malfeitorias com dinheiro público. Enquanto não forem sanados, de fato, esses vícios continuarão a ser um convite à maracutaia. O que não quer dizer que a sua supressão envolverá a atividade política em olor de santidade - é a clássica distinção entre condições necessárias e condições suficientes. Além disso e decerto mais importante, há um dado singelo que o presidente bem poderia ter levado em conta em sua pregação reformista como um breve contra a corrupção. Trata-se de algo ao alcance da compreensão até de quem não freqüentou mais do que um curso técnico - do que Lula se gaba, como se virtude fosse. Se a ocasião (no caso, o sistema político) faz o ladrão, nem por isso obriga a roubar. O ladrão não deixa de ser o que é porque existia a ocasião. O crime - não a circunstância atenuante - consiste em tê-la aproveitado. Exatamente como os homens do presidente trataram de construir a sua maioria parlamentar subornando políticos. Uns e outros são venais, com a agravante de que muitos dos primeiros investiam de dedo em riste contra a corrupção dos "partidos burgueses". Hoje, estão no índex do procurador-geral da República na qualidade de membros de uma sofisticada organização criminosa. Portanto, não é por aí que Lula pulverizará os "erros" dos seus companheiros, cometidos em nome de um projeto de ocupação e permanência no poder do qual ele próprio é o principal beneficiário. Para mal dos pecados, o seu esforço para, como se diz, aliviar a barra do petismo praticamente coincidiu com a divulgação de passagens até então inéditas do depoimento à Justiça Federal do filho do capo da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin, cuja empresa, a Planam, vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras com recursos de emendas apresentadas por congressistas acumpliciados com o esquema que fraudou o erário em pelo menos R$ 110 milhões. Vedoin contou - e aparentemente provou - ter pago R$ 400 mil ao petista José Airton Cirilo, membro do diretório nacional do partido, com influência junto ao então ministro da Saúde e atual candidato ao governo de Pernambuco, Humberto Costa, em troca da liberação de R$ 8 milhões devidos à firma desde o governo anterior, bloqueados, como outros restos a pagar, pelo presidente Lula. Também teria participado do arranjo o chefe de gabinete de Costa, hoje secretário de Gestão Estratégica da Saúde, Antônio Alves de Souza. Cirilo teria dito a Vedoin que acertara com o ministro a liberação de R$ 30 milhões extra-orçamentários para a compra de equipamentos hospitalares. Costa jura inocência. O PT, que se orgulhava de não ter um único membro na centena de congressistas e ex-congressistas acusados de sanguessugas, ficou com o discurso abalado também nessa frente. Vedoin disse ter subornado, por interpostas pessoas, o então deputado José Antônio Nogueira, atual coordenador da campanha de Lula no Amapá, para que apresentasse emendas viciadas ao orçamento federal. Nogueira usaria o dinheiro na disputa vitoriosa pela prefeitura de Santana (AP). Ele nega ter apresentado qualquer emenda para a compra de ambulâncias e que a Planam tenha fornecido qualquer equipamento ao município. O alegado envolvimento de Nogueira tem importância restrita. Mas Lula será atingido se ficar confirmada a participação do ministro Humberto Costa. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, julho 26, 2006
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