Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 19, 2006

Carlos Heitor Cony - Dinheiro e sangue

Folha de S. Paulo
19/6/2006

Esforço meritório, mas parece que inútil, o do deputado Fernando
Gabeira em levar adiante a CPI que investigará o escândalo das
ambulâncias. Meritório porque o Congresso precisava fazer alguma
coisa para apurar as denúncias que envolvem alguns de seus membros.
Inútil porque, apesar da seriedade de Gabeira e de outros
congressistas em apurar os fatos, o tempo e o modo fatalmente
impedirão que os trabalhos da comissão cheguem a um resultado que
puna os culpados.
Mais alguns dias, toda a classe política, principalmente os
parlamentares, entrarão em ritmo de campanha eleitoral, com os
compromissos das bases em primeiro plano. Bem verdade que poderá ser
montado um esquema que dê início aos trabalhos, mas qualquer CPI
envolve uma complicada logística, com prazos regimentais, idas e
vindas aos tribunais -tivemos farta experiência com as comissões que
encerraram os trabalhos deixando um travo de frustração na sociedade
e, honra seja feita, na própria classe política, quando alguns de
seus membros tudo fizeram para impedir a pizza finalmente servida de
diversas maneiras.
Devemos reconhecer o esforço de Gabeira e de outros congressistas,
eles farão tudo para que a CPI chegue aos culpados e os puna. Mas a
realidade do calendário e os mil e um recursos que serão usados pelos
suspeitos não darão condições às conclusões finais que mostrarão como
foi montado um dos mais indecentes -e cruéis- escândalos de uma era
já marcada por suculentos escândalos que estarreceram a moralidade
pública e chegaram a ameaçar a confiabilidade de nossas instituições
mais caras.
O impasse do Congresso é na base do bicho correr ou ficar: na
primeira hipótese, o bicho pega, na segunda, o bicho come. Um bicho
sujo de dinheiro e sangue.

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