Ou muito me enrolo com as complicações da tabela que não tenho
paciência e inteligência para compreender, ou ontem jogaram a
Alemanha contra a Suécia e a Argentina contra o México. Quase todo
mundo acha que a Copa só começa de fato agora, com um solene
“aufwiedersehen” (adeus em alemão, que nós, brasileiros, pronunciamos
alegremente “aufiderzén” e todo mundo entende) a quem perder.
Antes das oitavas-de-final, é como se fosse brincadeirinha, em que se
destacam os especialistas em probabilidades — sempre na base de que,
se X ganhar de Y por uma diferença de um gol e A empatar com B, no
caso de C não vencer D no dia anterior e não sei o que mais, o que,
naturalmente, compreendo ainda menos que as tabelas.
Para dizer a verdade, nunca me interessei muito por futebol
estrangeiro, porque sou um torcedor parcial, chovinista e usuário de
simpatias estranhas para favorecer meu time. O resto, para mim,
sempre foi futebol de gringo e não sou como os brasileiros que fazem
parte das torcidas de times europeus. Hoje, aí no Brasil, de vez em
quando assisto a partidas européias por causa dos jogadores
brasileiros e, considerando-se que moro no Rio, para ver um bom
joguinho de bola, porque no Rio isso tem andado cada vez mais difícil.
Mas aqui na Copa é diferente. Só se fala e respira futebol e quem não
se interessa pelo assunto dificilmente acha alguém com quem
conversar. Além disso, quando se está no meio de uma disputa como
esta, aparecem razões de todo tipo para se ter preferência pela
vitória de algum time. Por quem torcer, por exemplo, entre Alemanha e
Suécia? Já revelei aqui que minha final favorita seria — com uma
vitória nossa, naturalmente — contra a Alemanha. Mas a Alemanha está
agora se achando, como diz a juventude. Começou com brigas entre
goleiros, diferenças com o “Kaiser” Beckenbauer e assim por diante.
Agora até Beckenbauer diz que a Alemanha é favorita. O presidente da
Fifa também. Resultado: dá uma vontadezinha de que a Suécia, que é
mais ou menos nossa freguesa, leve essa, só para tapar o bocão desses
dois.
Quanto a Argentina e México, sabe-se que, na hora do jogo, todo
brasileiro é torcedor do México desde criancinha. Adoramos guacamole
e sombreros, além de amarmos perdidamente nossos irmãos astecas. Aí,
julgo eu, não há o que discutir sobre nossas preferências. Hoje,
entre Portugal e Holanda, apesar de eu achar Portugal um possível
futuro adversário mais perigoso, o coração fica com a terrinha. Já
Inglaterra e Equador me fazem querer prorrogar os 15 minutos de fama
deste último. E, finalmente, também sentirei um gostinho doce, se a
Itália levar uma surra da Austrália. Como se vê, minhas preferências
são todas muito objetivas e racionais, como sei que são as de vocês.
O que eu quero mesmo é esse caneco.