Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 29, 2006

Clóvis Rossi - Onde acertamos e onde erramos

Folha de S. Paulo
29/6/2006
Um dado dia, dois econometristas foram caçar patos. O primeiro
atirou, mas errou por um metro à esquerda. O segundo atirou, errou
por um metro à direita. E gritou: "Acertamos". Essa velha piada se
encaixa perfeitamente no belo trabalho de Gustavo Patú sobre o uso de
um dado índice de inflação para comparar gastos sociais -que, no
entanto, não serve para medir gastos com publicidade. Diz Patú: "O
índice, o IGP da Fundação Getúlio Vargas, faz parecer maiores os
valores [gastos em publicidade] dos anos FHC, o que é conveniente
para negar acusações de aumento em publicidade [com Lula], mas
desastroso para louvar o desempenho na área social". Nesta, completa
Patú, usando o tal IGP-DI, o economista petista Márcio Pochmann
conclui que os gastos sociais da União caíram 1,31% na comparação
entre os dois primeiros anos de Lula e os dois últimos de FHC. Ou,
voltando à piada, os dois lados podem gritar "acertamos". É só
escolher o índice para o seu tiro. Agora, o país certamente errou ao
deixar-se levar eternamente pela não-transparência da gestão pública.
Se não há uma maneira -e uma só, cientificamente aceita por todos- de
medir as coisas, como é que se pode, primeiro, julgar cada governo e,
segundo, estabelecer políticas para o futuro se o passado é sujeito a
controvérsias? No mais, preocupa-me concordar com Delfim Netto
(coluna de ontem) em sua crítica às "forças cegas do mercado". Mas
fico feliz de vê-lo escrevendo o que já escrevi faz tempo sobre a
emergência de líderes como Evo Moraes, "produto do esgotamento da
paciência dos bolivianos, que esperaram 20 anos pelos benefícios
prometidos pela estabilização neoliberal bem-sucedida". O Brasil
também espera./

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