Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 27, 2006

Merval Pereira - Começa o jogo






O Globo
27/6/2006

Os jogos estão praticamente feitos nos estados, e começaremos o mês de julho com um bom panorama de como as forças políticas se acertaram para a próxima eleição. Não acredito que exista algum candidato que possa se confrontar com os dois mais destacados nas pesquisas de opinião, Lula pela coligação esquálida PT-PRB, franco favorito às custas de seu carisma pessoal, e Geraldo Alckmin, pelo PSDB-PFL, que sai em vantagem na divisão do tempo de propaganda eleitoral gratuita, vantagem considerável se pensarmos na campanha midiática que estamos acostumados a assistir desde que Fernando Collor trouxe para ela, em 1990, truques tecnológicos e pesquisas que já dominavam as campanhas eleitorais nos Estados Unidos.

Mas o senador Cristovam Buarque, o candidato do PDT, vai crescer, vai ter mais que 1% que lhe dão as pesquisas hoje, e a senadora Heloísa Helena, candidata do PSOL, tem todas as condições para atingir uma votação expressiva, de dois dígitos. Os jogos estão feitos, faltando apenas pequenos, mas importantes detalhes: de um lado, a três dias do encerramento do prazo oficial das convenções partidárias, Lula ainda tenta convencer o PSB a aderir formalmente à sua coligação, para aumentar em um minutos e 48 segundos sua participação no programa de propaganda eleitoral de rádio e televisão que começa em 15 de agosto.

Sem o PSB, Lula terá seis minutos e 34 segundos, enquanto Alckmin terá pouco mais de nove minutos. Se o PCdoB também desistir de fazer a coligação formal, Lula perde mais 50 segundos de tempo de televisão, o que é uma perda ponderável pois Geraldo Alckmin está se mostrando um candidato midiático, que cresce nos programas de televisão.

Por isso, os tucanos têm boa notícia: Alckmin se recuperou em São Paulo, e a única maneira de poder tentar competir com Lula é saindo de seu estado com força. Pesquisa do Vox Populi mostra Alckmin com 45% das preferências, contra 34% de Lula. Por seu lado, Serra, lançado governador formalmente, ainda tenta convencer Orestes Quércia a não sair candidato ao governo de São Paulo.

Quércia não tem chances de ganhar, mas tira uns 10% de votos que poderiam ir para o PSDB e pode levar a disputa para o segundo turno, prestando um favor inestimável ao candidato Aloizio Mercadante, do PT, e se colocando como credor do Palácio do Planalto. Tanto PT quanto PSDB tentaram atrair a parte paulista do PMDB para suas posições, mas com atitudes distintas.

Lula, que anda pragmático que só ele, não se vexou de recebê-lo formalmente no Palácio do Planalto, para foto oficial que revelou sua sem-cerimônia com a legislação eleitoral, e muito menos com o antigo adversário, a quem acusou de roubar as pipocas do carrinho que Quércia dizia que Lula não sabia administrar.

Já Serra teve todos os cuidados para não ser visto em tão má companhia, mas teve várias conversas reservadas com Quércia. O PSDB nasceu devido a uma dissidência, de fundo essencialmente ética, contra a turma de Quércia que dominava e ainda domina o PMDB de São Paulo, e seria excessivo dar a ele a vice-governadoria, cargo que automaticamente o transformaria em governador de São Paulo em 2010 se Serra sair candidato à Presidência pelo PSDB, hipótese perfeitamente viável.

Por isso, também, Serra prefere a chapa pura, para garantir que o Estado de São Paulo não ficará nas mãos do grupo de Quércia, e nem mesmo do PFL, como acontece agora. Mas, pragmático que só ele, para evitar que a disputa do governo vá para o segundo turno, Serra, mesmo contra a tendência majoritária do PSDB paulista, e provavelmente tapando o nariz, vai tentar até o dia 30 fazer com que o grupo de Quércia aceite indicar o vice.

Os acordos políticos já estão feitos nos demais estados, e são acordos completamente desencontrados, a maioria sem a menor lógica partidária. Exemplar desse espírito anárquico e cínico é o de Alagoas, onde Renan Calheiros, um dos principais defensores de Lula em nível nacional no PMDB, fechou acordo com os tucanos.

Também no Sul melhorou a situação de Alckmin, que terá o apoio em Santa Catarina do governador Luiz Henrique, do PMDB, pois o PT não conseguiu que o ex-ministro da Pesca, José Fritsch, desistisse de se candidatar. No Rio Grande do Sul, pesquisa do Ibope mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva liderando a disputa pela preferência dos eleitores gaúchos, com 39% das intenções de voto, mas Alckmin aparece logo atrás, com 26%, e empatado tecnicamente num segundo turno. Além do mais, a maior taxa de rejeição no Rio Grande do Sul é a de Lula.

Lula perdeu também um pedaço do Nordeste, onde ele domina a situação. No Piauí, onde o senador Mão Santa venceu os governistas e garantiu sua candidatura pelo PMDB ao governo do estado que já governou. Nos estados, há uma outra realidade por que pequenas siglas, que não aparecem no plano federal, fazem seus acordos em nível regional.

Mas, de qualquer maneira, esses pequenos partidos que estão vendendo seu apoio por alguns segundos nos programas de propaganda gratuita não conseguirão cumprir as cláusulas de barreira e ficarão de fora do centro de poder no Congresso, onde as atividades políticas de peso se desenrolarão. Vamos sair dessa eleição mais organizados com uma boa perspectiva de futuro para o próximo Congresso.

 

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