Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 26, 2006

veja Ele quer fazer escola


Cristovam, do PDT, disputa a Presidência
para pôr a educação na pauta nacional


Policarpo Junior


Ana Araujo
Cristovam Buarque, em pose de campanha e com a mulher e as duas filhas: para barrar a "tentação autoritária" de Lula
Acervo pessoal

Num país em que a taxa de analfabetismo ainda gira em torno de 11% e que há pouco tempo conseguiu dar escola a praticamente todas as crianças de até 14 anos, a candidatura presidencial do senador Cristovam Buarque, do PDT do Distrito Federal, talvez seja um bom sinal. Aos 62 anos, Cristovam Buarque passou mais tempo envolvido com educação do que com política. Durante quinze anos, foi professor e reitor da Universidade de Brasília (UnB) e começou a dividir a carreira acadêmica com as urnas há doze anos, quando, concorrendo pelo PT, foi eleito governador do Distrito Federal (1995-1998). Embora suas chances eleitorais estejam expressas no quase-traço que tem nas pesquisas (na última, tinha 1% das intenções de voto), Cristovam Buarque vem com uma disposição dupla. A primeira é fazer de tudo para evitar que Lula ganhe no primeiro turno. "Vencer uma eleição com 60 milhões de votos no primeiro turno pode despertar a tentação autoritária do presidente", diz. A segunda é colocar a educação na pauta nacional. "O grande capital do Brasil não é uma fábrica, e sim os centros de pesquisa", afirma o candidato.

Acervo pessoal
Com Paulo Freire: admiração


Durante um ano, período em que foi ministro da Educação, Cristovam Buarque teve sucessivos choques com Lula e descobriu que a educação, no atual governo, era tratada como tema de segunda classe. "Lula não dava a mínima para os projetos que eu apresentava e o José Dirceu só dizia que não tinha dinheiro", rememora. As trombadas começaram logo cedo. Ao tomar posse, Cristovam Buarque disse que, em vez do Fome Zero, programa que merecia então todas as atenções de Lula, o Brasil precisava era do Bolsa Escola – programa que ele próprio implantou no Distrito Federal e que acabou adotado pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mais tarde, ele anunciou a criação de um programa que obrigava os prefeitos a garantir vagas nas escolas para crianças que completassem 4 anos. Lula telefonou para perguntar de onde ele tinha tirado tal idéia. "Do seu programa de governo, presidente", provocou Cristovam. Numa solenidade, ele pediu aumento nas verbas para a educação, e Lula passou-lhe uma descompostura em público. O então ministro chegou a sugerir a estudantes que cercassem o Congresso para reivindicar mais recursos para a educação, deixando Lula irritado. Até que, em janeiro de 2004, Lula, por telefone, demitiu seu ministro da Educação. "O que mais me magoa é que, até hoje, o presidente não me procurou para dar nem uma palavra de conforto", diz.

Casado, pai de duas filhas e admirador do educador Paulo Freire, que morreu em 1997, Cristovam Buarque, como candidato presidencial, parece a personificação de suas propostas – além do nome, ele tem apenas papel e lápis. Sua campanha ainda não tem tesoureiro nem marqueteiro. Para viajar o país sem gastar muito, Cristovam pensa em usar ônibus em alguns de seus deslocamentos. "Preciso de no mínimo 5 milhões de reais para fazer a campanha", diz. O próprio PDT está dividido entre os que defendem sua candidatura e os que preferiam não ter concorrente na disputa presidencial. Mas, em seus três minutos no horário eleitoral gratuito, Cristovam quer mostrar que é um político diferente. "Lula e Alckmin são dois candidatos iguais. Vão ficar discutindo quem fez mais, quem errou mais", diz ele. Seu primeiro objetivo é desfazer a impressão generalizada de que é uma usina de idéias mas incapaz de executá-las. Por isso, quer divulgar que, além de professor, é diplomado em engenharia mecânica. "O estereótipo do homem que tem idéias prejudica. As pessoas acham que ele não é capaz de realizar. Já o engenheiro é um realizador." Exemplo? Cristovam Buarque conta, orgulhoso, que é um recordista em construção de salas de aula. Em seu governo em Brasília, construiu duas salas e meia por dia. Tentou ser reeleito, não conseguiu, mas as escolas continuam de pé.

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